Wednesday, May 23, 2018

NEURA COM RAIMUNDO CARRERO II E TÉDIO ENORME


Hoje se afigura como um dia como outro qualquer, o que é ótimo. Deu uma endoidada na conexão entre o som e o computador, fica conectando e desconectando. É um efeito interessante, ouvir a música saindo da minha frente e das minhas costas, mas acho que isso pode acabar quebrando um dos dois aparelhos. Vou reiniciar o computador para ver se a coisa se ajeita. Um momento. 15h25.

15h35. Acho que agora o som e o computador se entenderam. Meu post novo está com incríveis 20 visualizações com menos de meia-hora de publicação, não sei a que se deve tal fenômeno, mas muito me agrada. Quem sabe não chegue a 40 visualizações? Seria ótimo. Vai ver que o hábito faz o monge. Ou a foto do bolo de alguma forma atraiu os leitores. Sabe-se lá, qual a razão.

15h38. A tosa vai ficar para amanhã. Mamãe não deixou dinheiro porque talvez não tenha. E certamente porque não se lembrou. Eu curto meu visual Urtigão, mas acho que dá impressão de desleixo para os demais seres humanos. E eu não gosto de transmitir essa imagem, pois é uma imagem que me incomoda ver nos demais. Amanhã eu toso, caso mamãe saque dinheiro hoje, o que pode significar ida ao supermercado e a logística de transporte que isso ocasiona para mim. O que será, será. Mas não queria ir ao Bompreço colocar as compras no carro, depois tirá-las aqui etc. Queria não ser perturbado na minha escrita aqui no meu quarto-ilha. Não que tenha muito a dizer. Quando penso em nada a dizer me dá um branco em relação ao que tratar que me incomoda. E me dá a deixa para colocar mais um copo de Coca com muito gelo.

15h50. Aparentemente estou sozinho em casa. Isso nesse momento não me agrada nem me desagrada. É uma ocasião que não me desperta grandes emoções. Liguei o ar. O que se passa na minha cabeça? Na verdade, não muito, uma leve decepção de minha atitude temerária de ontem não ter surtido o efeito desejado. Talvez haja um novo caminho. Mas esse é mais pedregoso, pois dependo de alguém que não estará disposto a me ajudar, pelo que conheço da figura. Ainda estou engrenando na escrita, ela não me flui com a facilidade e espontaneidade que tanto me agradam. Nem todo dia é dia santo. Mas vamos seguindo. Antes encher mais uma vez o refil de Coca e acho que fumar um cigarro.

16h05. A tarde está dourada e bela. É uma luz que não se vê nos demais países que visitei. Também fui no outono e no inverno, não haveria como ter essa luz, mas creio que a luz lá, mesmo no verão, como descobrirei na próxima viagem, a se dar no final de junho, não é igual a nossa. O meu amigo cineasta compartilha da mesma opinião. Até pelas fotos que vejo dos meus irmãos, do verão de lá, a luz é mais fria, mais branca e menos dourada. A decepção com a atitude de ontem aumenta. Mas é a vida, nem tudo dá certo. Pelo menos tenho uma tarde dourada de sol no meu quarto-ilha para escrever. Troquei U2 por Björk hoje. Disco que me traz recordações da viagem que fiz para visitar o meu irmão. São memórias agradáveis e aconchegantes. E acho o som desse disco fantástico. Não sei o que dizer, que saco. Não aconteceu nada de relevante de ontem para hoje que não tenha sido narrado no post anterior. A não ser que surja assunto relevante este post só vai ser divulgado no meu grupo de cinco participantes. Aparentemente meu padrasto retornou. Não me canso de admirar o busto do Hulk. Ele funciona muito mais de dia que à noite. À noite ele perde o contraste dos tons de verde. Tentarei a outra via quando a oportunidade se der. Eis outro sonho secundário que intento realizar. Não está nas minhas prioridades, mas é um desejo antigo, dos tempos de colégio ainda. Veremos. Deixei o utorrent ligado, mesmo que não esteja baixando nada para mim, nada me custa dar uma força aos demais usuários. Não sinto disposição para ver filmes, poderia perguntar o site de onde meu amigo jurista obtém o que quer ver, mas, sinceramente, sei que vou baixar e não vou assistir, então não tem para que me dar ao trabalho. Hoje as palavras me estão arredias. Não tenho a mínima ideia do que dizer. Estava pensando no Zelda Breath Of The Wild e em como achei o jogo chato. Mas isso não dá texto também, o que tinha a comentar sobre o jogo foi enunciado na fase anterior. Não sinto inclinação para games tampouco. Eu quero escrever, mas não tenho nada o que dizer, não que caiba aqui. Talvez a solução seja essa, ir para um lugar outro que me caiba mais. Nalgum dos meus projetos paralelos, mas me encontro sem conteúdo útil para estes também. Então permanecerei aqui.

16h28. Estou impressionado com a quantidade de acessos do meu post anterior, 25 já. Só pode ser a foto do bolo.

16h31. Meu tio disse que me mandou um e-mail. Mas esse ainda não chegou para mim.

17h04. Era alteração num plano de fundo do Facebook. Nada de muito excitante.

17h14. A minha conhecida da Livrinho de Papel Finíssimo finalmente me respondeu, disse para eu mandar o material para o e-mail da editora, disse-lhe que quando a revisão ficar pronta envio. Entretanto, só o farei se não houver a via do meu tio e se, e somente se, Seu Raimundo der seu aval. Não vou me publicar por que quero ter um livro, é muito pouco para validar a obra para mim. Seu Raimundo dando o seu aval, eu, esgotadas todas as possibilidades de edição, parto para uma produção própria. Mas a cada dia que passa desacredito mais que o bom velhinho vá me responder. Embora a esperança subsista. Baseada em quê, eu não sei. E ainda há a esperança de o meu tio botar lá para a editora avaliar a obra. Mas essas duas respostas, só terei quando a revisão definitiva ficar pronta. Quando o livro estiver pronto em conteúdo, pelo menos. Antes disso ainda, quando a primeira revisão ficar pronta, já contatarei Seu Raimundo perguntando acerca da obra. Se ele milagrosamente não me contatar antes.

17h30. Vi uma foto de uma criança feliz sorrindo e logo abaixo uma cena de violência extrema contra uma criança de três anos se muito, uma cena deveras chocante, quase inacreditável. Não sei como não matou pequenina menina. Chegou a pegar uma faca com tal intento, mas quem assistia e filmava a cena interveio pelo menos nessa hora. Grotesco. A humanidade pode ser surpreendentemente irracional. O que se passa na cabeça dessa agressora numa hora dessas é uma incógnita para mim. Ou o que a criança fez para merecer violência tão extrema. Não há nada que possa ter feito que merecesse isso, afinal nenhuma criança merece tal coisa. Apesar dessas aberrações, sou otimista em relação à humanidade. “You may say I’m a dreamer...” pegar Coca. Estou com leve fome.

17h47. A Coca me roubou a fome. Tanto melhor. Hoje estou realmente sem nada para dizer. Estou com vontade de fumar outro cigarro. O tédio me ronda, me espreita, prestes a me atacar. Como me desvencilhar dele sem palavras? Eu não sei. O tédio é um sentimento que me incomoda profundamente. É a inércia completa é a vida vivida só porque o coração bate e isso me desagrada. O tédio era o que menos queria. O que mais queria, além do fim do tédio? Obviamente uma resposta positiva de Seu Raimundo. Não vou revolver novamente sobre Raimundo Carrero, ele provavelmente não vai me responder. Tenho que me conscientizar disso. Mas é difícil, a esperança vai até o game over. E quando seria este game over? Quando eu mandar o próximo e-mail para ele e o bom velhinho não me responder. Às vezes se abate uma forte descrença em todo esse movimento. Que não vou ter nada do que espero. Ou seja, nem resposta de Raimundo Carrero, nem ajuda do meu tio, nem publicação do livro. Isso é apenas um enorme esforço emocional desperdiçado. Uma série de grandes ansiedades sentidas em vão. De expectativas goradas. Nessas horas me sinto uma piada de mal gosto. Sonhador do impossível. É ruim tais momentos de clareza. Não sei se clareza ou de dureza excessiva comigo mesmo. Mas me parece mais que estou sendo realista. Entretanto, esperarei a incrível revisora me entregar a primeira parte da revisão, para me desiludir logo com Raimundo Carrero. A ansiedade está tomando o lugar do tédio e não sei qual dos dois é pior. Quero apenas estar em paz com as minhas palavras. Deixar esse livro de lado que não vai dar em nada além do meu ideal inicial de tê-lo revisado. Não passará disso. É preciso matar todas as esperanças. O que diria a Raimundo Carrero no e-mail que selará a minha esperança em relação ao bom velhinho? Bom, vamos ver o que sai.

Olá, Seu Raimundo, ou Carrero, como preferir, acredito que o senhor já tenha tido tempo suficiente para formar uma opinião acerca da minha obra, mesmo que não tenha terminado a leitura, e acredito que o senhor seja um homem de palavra, não apenas escrita, mas dita, vivida. Então aguardo resposta se é ou não uma obra digna de ser publicada. Nada me faria melhor que a sua mais pura sinceridade. Sei que o conteúdo é por vezes polêmico, mas usei do mesmo expediente, a sinceridade. Sei que poderei sofrer preconceito, mas é a minha verdade e ela tem que prevalecer.

Grande abraço,

Mário Barros.

18h16. Uma vez posta em palavras a carta, me bate uma vontade quase incontrolável de enviá-la. É só copiar, colar e enviar. A vontade se debate dentro de mim, para se manifestar, mas preciso me controlar, é um embate difícil entre a ansiedade de uma resposta (ou resposta nenhuma) e manter o plano de só enviar tal mensagem quando receber o texto da primeira revisão da incrível revisora. A vontade que tenho é de mandar esse e-mail para ela e descobrir qual a sua opinião.

18h26. Dei uma olhada pela internet e isso me arrefeceu os ânimos. A vida é uma grande brincadeira. É o pensamento que me vem. Uma brincadeira em que nos damos importância demais, importância essa que realmente não temos. Somos iguais ao outro. Eu sou igual ao outro, não difiro em nada e se o faço é para pior. Esse livro é uma brincadeira, um passatempo que arrumei para mim. Ninguém o verá com seriedade. Bem, não sei, pois ao passo que anda não vai chegar aos olhos de ninguém. Apenas eu e a incrível revisora saberemos de seu conteúdo. Fumar um cigarro que é o melhor que eu faço.

18h41. Voltei achando ainda a história toda do livro de um absurdo sem tamanho. Não sei se isso é o meu superego me intimidando ou um senso de realidade, bem, realista. Se for para levar na brincadeira, posso enviar o e-mail para Carrero já hoje. Já agora. Sem pedir conselho a ninguém. Mas não vou fazer isso, por enquanto. Posso mudar de opinião no próximo instante. Aposto que ele nem leu o que enviei. É um dos meus dois maiores sonhos, mas agora me parece ridículo. Eu publicar um livro. Eu ter o aval de Raimundo Carrero. Tudo me soa ridículo e irreal. Um delírio da minha cabeça. Anotações feitas sem o menor traço de estilo, redundantes, cansativas, paranoicas no mais das vezes, que valia tal conteúdo tem? Eu estou mesmo a construir castelos de ar. Me sinto completamente descrente agora. Não gosto de me sentir assim. Mas é como me sinto, descrente e ridículo por ter acreditado nessa baboseira.

18h57. Mandei o e-mail para a incrível revisora por WhatsApp pedindo que ela me dissuada da ideia de enviá-lo. Se tudo não passa de uma brincadeira, por que não posso brincar? Se Seu Raimundo não me levou a sério, se não leu linha sequer. Preciso saber. Necessito de uma resposta. Só Deus, se existisse, saberia o quanto preciso dessa resposta. Preciso saber se leu, se não vai ler, se achou uma porcaria, se é válido, se alguma coisa, alguma manifestação do digníssimo senhor. Agora eu fico na ansiedade da resposta da minha amiga revisora. Troquei seis por meia dúzia. Hahaha. Que droga, viu? Odeio depender dos outros para coisas minhas. Mas a minha insegurança me faz dependente. Não vou botar mais um livro no mundo sem algum tipo de validação de sua qualidade como tal.

19h12. Olhei mais um pouco a internet e novamente isso arrefeceu o meu ânimo. Que situação mais chata.

19h19. Procurando na internet, vi que o bom velhinho é ocupado mesmo. Não deve nem ter se dado ao trabalho de ler. Ozzy não saber. Muito ozzy. Vamos ver o que a minha amiga revisora me responderá. A fome volta a se apoderar de mim. Depois que todos jantarem, eu janto. Charque frita com arroz. Não me interessa a farinha agora. Eu estou com mil pensamentos na cabeça, uns se batendo nos outros.

19h28. Vi que Seu Raimundo foi homenageado de um evento no RioMar. Esse homem é importante mesmo e mais importante o é para mim, pois dele depende a validade ou não do maior projeto da minha vida. Isso tudo me parece outra vez ridículo. Sei não, não sei de mais nada no momento, estou numa fase de confusão mental.

19h37. A incrível revisora, conseguiu me demover da ideia uma vez mais. Parabéns para ela. Ela disse que eu não devo enviar nada, só esperar a resposta. Se vier veio, se não vier... eu vou ficar muito puto com Seu Raimundo Carrero! Hahaha. É sério, fazendo papel de palhaço aqui e o velhote nem sequer leu o que mandei. Mas ele não é prestador de serviço e eu não sou seu cliente, então não posso cobrar nada dele. O que é uma visão muito clara para mim agora, o que ficou subentendido da posição da minha amiga. E ela tem razão. É um ato de enorme generosidade dele ler a minha obra. Se estiver lendo. Se lerá. Essa dúvida é que me apoquenta. Deixa para lá. Se ele der resposta deu, se não der, não foi por aí o caminho. Só me restará enviar para as editoras, mas confesso-me meio desanimado para isso no atual momento.

19h59. Como a minha amiga revisora disse é pagar para ver, não há mais nada que eu possa fazer. Não tivera eu mandado o e-mail ansioso que mandei, ficaria mais tranquilo e mais confiante, mas tal e-mail pode ter posto tudo a perder. Que seja. Minha mãe disse que não contasse mais com isso, que ele não responderia. E que ele nem era esse balaio todo. Que eu relaxasse quanto a isso. Que existem outras vias.

20h10. Eu agora dei uma relaxada legal nessa história do escritor. Vi um pouco de internet saí dessa paranoia. Está entregue. Não há, segundo a minha amiga revisora, mais nada que eu possa fazer. Segundo minha mãe é tirar essa ideia da cabeça. Ouvi o apito mais tenebroso do mundo agora, parece um grito animalesco de gente. Curioso. O apito chama-se Ehecachichtli, para os interessados.

20h20. Minha mãe vai fazer um sanduba para mim, ótima notícia. Não será suficiente para aplacar a minha fome, mas já dará um grau. Pensar que não tenho o que dizer só me faz ficar mais bloqueado. Interessante isso. O pensamento tem poderes ainda incompreendidos, acho eu. Estou sem saco para escrever hoje. Quase pegando o Switch para jogar um pouco de Mario Odyssey, mas é só pensar que um sentimento de repulsa me toma. Hoje é um dia como outro qualquer não fora essa crise de tédio que me aflige. E descobri agora, prefiro o tédio à ansiedade. Ansiedade é mais agressiva ao espírito. Ao meu, pelo menos. Se nada mais restar posso ver as pegadinhas de João Kleber. Esse definitivamente é um post que não merece ser divulgado. Estou... como estou?

20h51. Como estou? Não estou nos meus melhores dias. Estou entediado e desesperançoso a respeito do livro e de tudo o mais. Estou também de barriga razoavelmente cheia, comi dois sanduíches de pão com ovo e presunto que mamãe fez. Estou com uma leve esperança de que se for para algum dos meus projetos paralelos as coisas melhorem, mas não irei agora. Por quê? Porque não quero. Eu nem sei o que quero. Gostaria que me afluíssem palavras, mas essas estão especialmente escassas hoje.

21h16. Dei uma passada por um projeto paralelo, mas hoje estou sem inspiração mesmo. Que saco. Quase botando um filme para assistir.

21h24. O que eu quero? Que este dia acabe. O pior é que o de amanhã não vai ser muito diferente deste. Só sei que se algo der errado eu não enviarei. E mesmo se tudo der certo não sei se enviarei. Nossa, como queria que tudo desse certo. Mas não mereço tanto, eu que já tenho demais da conta. Como as palavras me vêm difíceis e poucas hoje. Vou ligar o ar. Afora os meus dois sonhos, não há nada mais que eu necessite na vida. Existe, que o morrer não me seja um processo doloroso. Mas não trabalho para isso. E de nada adiantaria. Visto que o tanto que trabalho para a consecução dos meus sonhos se mostrará igualmente infrutífero. Inútil. O esforço e quem o faz. Ambos inúteis. Eu, peso morto em vida. Acho que vou mudar para U2. Estou sem disposição até para isso. Hoje estou deprê. Imagino a causa. Ou o conjunto delas.

21h38. Como pôde a eloquência sempre tão peculiar a estas páginas ter se escondido dessa forma? Definitivamente um post que não vai ser divulgado. Botei U2. Não quero virar diabético. Um exame que mamãe viu me revelou a um passo disso.

22h02. À medida que paramos de crescer e começamos a morrer parece que ano pesa ao nosso corpo e a carga do ano seguinte é ainda maior que a do anterior, especialmente no final da vida. Ou assim se dá com a minha mãe. É o que percebo. É incrível como botam vovó no papel de mentalmente debilitada, deveriam a tratar como uma pessoa normal. E antes, como mãe. Não sei o que estou falando. Nada sei da velhice ainda, não vou me colocar no papel de velho de já ter uma carga que me incomode. E não tivesse o bucho acho que tudo melhoraria, mas não posso comprová-lo porque não consigo fazê-lo. Está me sendo tedioso escrever hoje, que coisa chata. Vou mudar de assunto para ver se o ânimo melhora. Lembrei das pegadinhas de João Kleber.

23h30. Eureka! Descobri a razão do meu tédio e da falta de palavras, café! Eu hoje só tomei duas xícaras de café, não foi o suficiente. Estou acostumado a tomar mais. Só pode ter sido isso. Amanhã a fantástica faxineira vai estar aqui e terei café à vontade, amanhã o tédio não me assolará, tenho muita convicção.

0h31. Mandei há alguns minutos uma mensagem para a minha tia-mãe porque me bateu a saudade. Ela aparentemente ficou feliz com a lembrança. Me senti bem e feliz, principalmente por ter sido sincero. De repente pinto lá no sábado à tarde. Mas aí mamãe vai encrespar porque eu não vou visitar vovó com ela. Outra coisa eu que deveria considerar fazer com mais frequência. Ela esteve aqui hoje e estava dormindo. Acho que vou comer sorvete. A fome está me atacando, mas não a ponto de comer charque gelada com macarrão de arroz idem. É só esquentar no micro-ondas. Bem pensado. Não sei. Quando chegar à cozinha, eu vejo.

0h53. Comi charque com macarrão de arroz esquentados no micro-ondas. Talvez arremate com um sorvete e o meu último cigarro da noite. O que as minhas duas amigas psicólogas vão pensar quando revelar-lhes de antemão um dos grandes detalhes do livro? Se esse livro se materializar mesmo. O vi bem sólido e agora cada vez mais vejo-o perdendo substância, materialidade seus vínculos com a realidade. E eu ainda achava que tinha escrito uma coisa boa. Essa ilusão foi a primeira que sumiu. Minha segurança em relação ao livro. Outorguei tal validação a outrem que não sei se me responderá ou não. Foi o mais prudente a se fazer? Na minha cabeça foi. E foi um golpe de sorte, pensar num cara que tem e-mail pela internet facilmente acessível. E mais ainda uma lenda da literatura pernambucana que disse que leria com prazer. Eu ainda não acredito que mandei aquele e-mail ansioso para ele. E outro botando panos quentes. E ainda aumentando o número de pessoas que iriam se decepcionar se ele não me respondesse. Hahaha. Acho que depois disso ele desistiu. Ou não. Vou lá saber. Quatro cigarros para amanhã. Vou fumar o saideiro agora. 1h04.

1h12. “De noite você sonha com a vida que você quase tem, meu bem, quase já é muito bom”. Mas não queria quase ter um livro que é o que de fato terei até o momento. Nem quase uma namorada que nem quase tenho. É fogo, só venho retomar o gosto pelas palavras ou elas por mim agora de madrugada. Seguirei escrevendo até que força maior se alevante. Que seriam ou mamãe ou o sono. Acho difícil mamãe se levantar por causa do joelho, mas não dou certeza disso. Sei que estou no meu último copo de Coca, prestes a entrar no guaraná. Dou meu prazo máximo quando acabar o guaraná, mas acho que vou antes. Acho que só beberei esse copo de Coca mesmo, que já está no final, por sinal. Não posso mandar uma mensagem para mamãe, pois ela saberá que estou acordado até essa hora. Estou com um prurido no couro cabeludo. Nome engraçado esse, “couro cabeludo”, nunca tinha me dado conta, me lembra a arrancar o escalpo, o que não é um vínculo imagético nada agradável. Hoje desabafei no Vate. Foi bom, estava precisando dar vazão a percepções e sentimentos que não encontram espaço aqui. Quem sabe um dia em que for um velho desbocado não conte tudo aqui? Ainda mexi o mais brevemente possível, o que é necessário, no meu outro projeto paralelo. Acho que só voltarei a ele quando acontecer algo de muito relevante em relação ao livro ou a qualquer coisa da minha vida. A depender das coisas, elas poderão muito bem aparecer aqui também. Ai, ai, projetos, projetos, tanta coisa fora de lugar. Mas é assim que a vida me quis colocar, aceito de bom grado. Aceito de bom grado que o ícone da bateria novamente apareceu na barra de tarefas. Ótima notícia. Para mim pequenos eventos, como esse, tomam dimensões maiores pela falta de variedade no meu cotidiano. Mas o ícone da bateria é fundamental para mim, me sinalizou agora que eu tinha esquecido a bateria conectada ao computador, o que diminui sua vida útil. Para mim, é sempre bom tê-lo à vista. Entrei na sétima página de Word, a página final. Será que teria considerações finais a fazer? Bem, o post ou eu, só veio ficar mais interessante agora no final da noite, quando me senti mais leve, sem ansiedade e mais em paz comigo. Aí as coisas começaram a fluir. É uma pena que não seja muito do conteúdo do post que esteja nesse estado de ânimo superior. Mas é a vida, cheia de altos e baixos. Tento levar a minha no nível mais plano possível, mas você sabe como são as estradas brasileiras. Hahaha. Não gosto de oscilar nem para cima demais nem para baixo demais. Prefiro me sentir bem cotidianamente do que viver numa montanha-russa emocional. Acho que o sonho está batendo, que pena. Vamos ver se consigo levar este texto até o final da página. Desgosto e gosto de ter o Desabafos do Vate. Queria não ter pudores e me revelar inteiro aqui. Mas é, em uma palavra, burrice fazer isso. Já me revelo demais aqui, não precisa ser uma nudez completa, tenho os meus pudores também. E para lidar com o meu lado despudorado, há o Vate. Acho que vou pegar um copo de guaraná para acabar essa página. E comer um sorvete de chocolate com Ovomaltine. 1h40.

1h49. Vontade de fumar mais um cigarro, mas aí não dá mais, quatro já é muito pouco para amanhã. Cinco eu ainda fumava um, como fumei, mas quatro, para ficar com três, nem a pau. A não ser que mamãe me dê o cigarro mais cedo. Vou fumar e vou dormir. Senão acabo sem cigarros para amanhã.

2h01. Só três cigarros, amanhã pagarei pela minha ousadia. Se valeu a pena? Amanhã saberei. Até agora valeu a pena demais. Saboreei todos e cada um deles. Cigarro quando se está com vontade é bom demais. Nossa, isso me remeteu à viagem, ainda não estou preparado para ela. Nem sei se em algum momento estarei. Não gosto de me deslocar, sair da minha zona de conforto. E da zona de desconforto que é um avião. Chegando lá, tudo é mais tranquilo, espero. Vou me deitar. Inté. Obrigado por me acompanhar até aqui.

Thursday, May 10, 2018

NEURA COM RAIMUNDO CARRERO


12h51. Como já tenho um post na agulha para amanhã no Jornal do Profeta, venho me dizer aqui num dos meus blogs capilares que, agora percebo, tem essa outra finalidade que é escoar a minha produção que tem sido excessiva para um só blog. Nossa, como os cabelos caem depois dos 40. O meu teclado estava cheio deles o que me agoniava deveras. Consegui removê-los. É interessante, me sinto diferente, sabendo que estou escrevendo para um dos meus blogs capilares. Dificilmente serei lido, mas revisarei o texto da mesma forma. Continuo com a paranoia se Seu Raimundo (Carrero) vai responder sobre o meu texto ou não. Ele seria a pessoa que validaria minha obra como digna de ser publicada. Estou quase mandando um e-mail para ele contando do meu blog. Não farei isso. Combinei comigo mesmo que a próxima comunicação tem que partir dele. Eu já o importunei demais. Se ele for um homem de palavra há de me responder. Senão obtiver resposta até lá, que não sei quando se dará, me prometi enviar uma última mensagem com a versão final, devidamente revisada do meu livro. O que ainda demora uns bons dois meses, eu creio. Tempo demais para que leia o que lhe mandei, eu creio. O que pega mais é que ele é do Movimento Armorial e há uma série de referências à cultura americana no meu texto. Ah, para você que está por fora, eu redigi um diário enquanto internado num manicômio privado por abuso de drogas. Ficou uma maçaroca de 232 páginas de Word com fonte Calibri corpo 11. E não pulei páginas de um capítulo para o outro, foi tudo corrido. Enviei para um concurso nacional de literatura da Cepe e, com a formatação exigida, Times New Roman corpo 12, pulando página após o final de cada capítulo, pulou para 288 páginas de Word. Ou seja, não é uma coisa que se leia da noite para o dia. Gostaria que a incrível revisora me dissesse que foi transportada para dentro do manicômio com a narrativa, que se interessou pelos personagens, aí acho que teria atingido o meu objetivo. Eu penso em cortar os dias que passei em casa, nas saídas de final de semana, mas acho que nem isso vou cortar. “Landlady” do U2, passa no som, linda, linda. Se você tiver Spotify e não odiar U2, poderia dar uma chance a essa música, é a melhor do “Songs of Experience”, na minha opinião. Mas não vou me repetir aqui. Só digo que ela me lembra a liberdade. O que não é pouco. Foi em condições sui generis que essa música adquiriu esse significado para mim, quando de uma recaída na cola de sapateiro, minha droga de preferência e antes da internação, mais uma vez, no Manicômio. Tive oportunidade de ouvi-la aqui no meu quarto-ilha, enquanto escrevia, tomava minha Coca e tinha a companhia do meu busto do Hulk em tamanho real. Um momento de liberdade, entre a escravidão do vício e a prisão do Manicômio. Foi um momento marcante e transformador da minha vida, quando percebi que o grande barato é isto que agora faço. É ter a liberdade de escrever no meu quarto amado, me sentindo livre. Mas já narrei isso no “Diário do Manicômio”, nome da minha obra. Essa que quero que Seu Raimundo leia. Única história peculiar que tenho para contar da minha vida. Pois o resto dela se resume basicamente a escrever. É isso que eu amo e o que dá sentido e direção à minha existência.




13h18. Aqui provavelmente irei remoer sobre Seu Raimundo, mas não estou aperreado com isso no momento. Hoje é aniversário de uma amiga, mais para conhecida, cujo aniversário da filha em 2016 foi o dia mais feliz da minha vida. Narro isso no livro também. Os dois dias mais felizes da minha vida. E o segundo é relacionado com a cola. Pois é, as drogas têm esse poder de êxtase absoluto, de prazer dos prazeres, por isso é tão difícil ao viciado se desvencilhar delas. Por isso foi difícil para mim me desvencilhar dela. Sorte que na minha última recaída, a de “Landlady”, o uso tenha sido uma porcaria e decidi que estou velho para me dar a esse desfrute. Não era mais como foi antigamente, não houve catarse ou êxtase. Ainda bem. O que posso contar mais a você. Sobre seu Raimundo. O seu era o único nome de escritor pernambucano do qual me lembrava e calhou de ser um que tinha e-mail na internet. Perguntei se ele estava disposto a ler o meu livro e ele disse que leria com prazer. Mandei dia 30, faz 10 dias hoje e não obtive mais resposta. Acho que talvez seja pouco tempo para ele ler o livro todo, olhando em retrospecto. Ainda mais ele que deve ter uma vida muito mais atarefada que a minha que sou curatelado, não trabalho senão escrevendo incansavelmente esses textos. Porque escrevo muito sobre o tal do livro e isso me põe ansiosíssimo para dizer o mínimo. Como não vejo TV e não leio, não tenho pensamentos outros para me preencher a mente que não os meus mesmos. O livro sendo um dos meus dois maiores sonhos na vida (o outro sendo namorar um certo alguém também revelado no livro! Hahaha). E o sonho mais passível de se realizar, afinal, juntando um pouco de dinheiro posso me publicar. O problema é que não queria me publicar por me publicar, num ato de egolatria que todo livro deveras é, mas, sim, com o aval de alguém que julgasse meritória tal publicação. No caso, Seu Raimundo. Ou uma editora aceitando me publicar, o que acho mais difícil, pois meu livro toca em alguns delicados tabus. Seu Raimundo é que é a pessoa que queria que respondesse, sua resposta é a coisa mais importante para mim hoje, nesse exato momento, e tem sido assim há alguns dias já. Esse líquido que coloquei no meu cigarro eletrônico combina bem com o gosto de café. São sabores complementares, eu diria. Não sei qual é o sabor do líquido, mas por ser de qualidade, não ser do chinês do qual comprei 500ml sabor cereja, tem um sabor marcante e uma fumaça que ofende menos o meu pulmão. Por sinal, devido ao cigarro e à cola, da última vez que aferi, a minha capacidade pulmonar era de 68% apenas, ou seja, caminho para um enfisema pulmonar. Mas confio cegamente nos avanços da medicina. Hahaha. O que pode atrapalhar os avanços da medicina é o lobby da indústria farmacêutica. Mas aí estou eu a criar teorias da conspiração. Que não acho tão distantes da realidade. Veremos o que o futuro me reserva. Tomara que um pulmão novo. Hahaha. E pode ser que morra de coisa outra também. Nunca se sabe. O destino/acaso é tão criativo. Às vezes de forma maquiavélica. Quantas ironias do destino/acaso já presenciei...

13h43. Eu me sinto mais livre para me repetir aqui, o que torna o meu trabalho ainda mais fácil. No Jornal do Profeta eu tenho que ter o maior cuidado para não fazê-lo e acabo sempre incorrendo na repetição. Mas aqui, reduto que ninguém lê, posso redundar à vontade. Se você aportou aqui só encontrará novidade. A não ser que tenha achado esse recôndito por causa do Jornal do Profeta. Aí vai achar só mais do mesmo. Voltando ao livro, o coloquei para revisão com uma pessoa querida e na qual confio muito, a namorada do meu primo urbano. Não por ser a sua namorada, mas por ser uma pessoa dedicada e muito perfeccionista. Não sei se ela me dizendo que é uma grande história, que merece ser compartilhada, eu me convenceria disso. Talvez, mas só se ela espontaneamente me dissesse tais coisas, o que não vai acontecer, pois não é verdade. É um texto narrado frouxamente, cheio de eventos desinteressantes amplificados pelo tédio da internação. Fatos irrelevantes ganham uma dimensão enorme, quando se está internado e nada de mais significativo acontece. Talvez esse seja o maior pecado do livro. Quando escrevo a palavra livro, só penso em Seu Raimundo. Só ele poderia outorgar ou negar a qualidade do meu texto de ser livro. Como queria uma resposta dele. Hoje eu queria mais a resposta dele que o sim de Aurora. Até porque a hora de Aurora para mim ainda não é chegada. A sensação que tenho é que Seu Raimundo não me responderá, mas a esperança existe e não para de zunir no meu juízo. É um tormento. Essa espera do que pode nem vir. Se soubesse que viria, eu ficaria tranquilo e esperaria em paz, mas não saber é muito agoniante. A dúvida em relação a isso é algo que me consome e me põe muito ansioso. Eu que não sou dado a ansiedades, me vejo agora diariamente assaltado por elas. E olhe que me considero um cara tranquilo, mas estamos falando aqui do sonho maior de uma pessoa, sua realização profissional, a única e última obra que possuo. Se não for essa, morrerei sem publicar nada (de físico, visto que a minha produção virtual vai muito bem, obrigado, apesar de ser lido por poucos), o que vai ser uma grande frustração em me considerando escritor. Coisa que só me considerarei caso a minha obra seja aprovada por Seu Raimundo ou por uma editora. Publicar um livro por egolatria somente não me outorga o direito de me chamar escritor. Preciso do aval de alguém ou alguma instituição que julgue a minha obra meritória de publicação. Seu Raimundo é até da Academia Pernambucana de Letras, nem sabia. Cadeira número 3, eu acho. O cara é o suprassumo mesmo. Se ele aceitasse o meu livro, estaria realizado, mesmo que não o publicasse, embora com uma sagração dessas eu mesmo me publicaria. Não acharia egolatria, mas válido publicar. Nossa, só não peço a Deus porque não acredito na entidade e porque se ela existir há pessoas muito mais necessitadas do que eu para ela acudir. Seria egoísmo da minha parte. Um tolo querendo que um grande mestre – que disse que leria com prazer a minha obra – responda algo sobre um texto que lhe enviei. Caso ainda não tenha me respondido até a versão definitiva do texto ficar pronta. “Landylady”, o Spotify está em modo cíclico desse disco. Eu mandarei tal versão e perguntarei se ele é um homem de palavra ou não. É a narrativa de uma situação sui generis pela qual poucas pessoas passam e o único escriba disponível para narrar a tal situação fui eu. Não vejo mais ninguém fazendo o mesmo. Anotando o que se passa ao redor de si num manicômio privado. Tem partes interessantes e outras tediosas. Acho que na edição terei que limar as partes chatas. O pior que não sei como, pois há eventos que se desencadeiam de outros, o que acontece em um dia respinga para o próximo e assim sucessivamente. Mas deve haver uma forma de cortar os dias chatos, ou então, quem sabe, uma vez que se pegue o ritmo do livro, se acostume com o seu ritmo. Não sei, só sei que queria o aval do ocupante da cadeira número 3 da Academia Pernambucana de Letras. E que a espera incerta de tal retorno me ataca os nervos. Já até elaborei uma capa para o livro, veja só. Por sinal veja só mesmo, aí embaixo.





14h34. O que achou? Fraca? Melhor deixar com o diagramador, né? E olha que sou formado em Publicidade e Propaganda! Hahaha. Para você ver como eu não tinha talento nenhum para a profissão. Escolhi a cor laca gerânio, ou o mais próximo dela, para os textos e lombada por ser a minha cor predileta, coloquei um azulejo rachado na capa, embora não pareça isso, pois o manicômio é todo revestido de azulejos. Coloquei o título lá embaixo porque, além de ficar uma composição legal, eu quero mandar produzir umas cintas com slogans provocativos e colocar no centro do livro. Assim uma coisa não impede a leitura da outra. Isso se e somente se o meu livro for tido como publicável por Seu Raimundo ou quem ache de direito. Seu Raimundo seria perfeito, não poderia ter escolhido padrinho melhor, o negócio é ter paciência e esperar que ele me responda, coisa que não estou conseguindo ter. Sempre fui muito imediatista. E essas coisas não se dão assim. Eu acho, pois nunca fiz nada nem de perto semelhante a isso. E não farei novamente. Só tenho essa história para contar, não pretendo me submeter a mais nenhuma internação ou recair no uso de cola. Não há ninguém que se disporá a escrever um caudaloso diário de sua estadia num manicômio privado. Ou público, que seja. Por isso e pela sinceridade acho o meu texto único. Mas não sei se esses dois diferenciais são suficientes para elevar o meu texto ao status de livro. Sei lá. Sei lá o que esperar do destino/acaso e de Seu Raimundo. Fato é que ele é a pessoa mais citada nos meus últimos posts do Jornal do Profeta. Por isso foi até bom vir remoer aqui, num local que não estava ainda impregnado de Seu Raimundo. Agora está. Hahaha. Não sei em qual dos blogs eu publique isto. Bom ainda tenho o dia inteiro para escrever, então não há pressa.

14h53. Na varanda, minha mãe atende um aluno. No mundo pessoas nascem e morrem. Eu me sinto um abençoado em relação a elas, faço o que amo e tenho as minhas necessidades todas supridas. Quase todas. A de afeto e a de validação do meu livro estão deficitárias. Que são os meus dois maiores sonhos. De resto não me falta nada. Tenho tudo o que desejo e até mais. Tenho Hulk, tenho amigos (que estão meio distantes de mim ou eu deles). Tenho uma mãe e isso é muito importante e significativo, pois temos uma relação de codependência forte. Não sei como será o meu mundo sem a minha mãe, o rombo vai ser enorme na alma. Desaprendi a me gerenciar, me acostumei a ser gerenciado por ela. Por mais que ultimamente tenha aliviado um pouco as rédeas. O que é bom para mim e para ela. Estou com vontade de fumar um cigarro de verdade, mas acho que fumei muito ontem à noite e a carteira tem que durar até amanhã à noite. Vou ver quantos tenho. Se tiver 13, eu fumo um. Tenho onze. Cinco para hoje e seis para amanhã. É isso. Vou fumar um.

15h11. Fumei e continuo apostando todas as minhas fichas em Seu Raimundo. O café acabou. Passei à Coca Zero. Funciono precariamente sem cafeína. O café me desperta e me põe de bom humor. Fico hipotetizando uma tarde/noite de autógrafos para o lançamento do livro e morro de vergonha. A pessoa que me revelo no livro não é nem um pouco bonita ou agradável. Mas isso só descobrirão depois de ler. Mas me envergonha ser o centro das atenções de forma tão completa. Se fosse fazer, faria no casarão aqui do prédio. Caso fosse uma publicação do meu bolso. Se fosse de uma editora, o que certamente não se dará, ela determinaria o local e ofereceria a infraestrutura. Será que teria que contratar garçons, ter canapés, pensei em encher o freezer de cervejas ou, melhor ainda, deixar a organização por conta da minha prima e vizinha produtora de eventos. Da forma mais barata possível. Não queria que meus familiares maternos tivessem acesso ao livro. Não sei se os convidaria. Mas quer saber, dane-se. É a minha verdade, doa a quem doer. Só acho que tenho que alertar as minhas duas melhores amigas, só perdendo para a Gatinha, minha ex, sobre a parte mais delicada do livro. Isso preciso fazer antes de lançar, se lançar. Está tudo nas mãos de Seu Raimundo. “Landlady” passa novamente. E Seu Raimundo novamente vem à baila. Nossa como queria que o bom velhinho me respondesse. Com honestidade, dizendo se é publicável ou não. Mas acho que por ser do Movimento Armorial, que defende a cultura local, vá odiar o meu texto cheio de anglicismos e citações a cultura americana. Seria bom que colocasse tal ideologia de lado e analisasse o todo. Bom, faz apenas dez dias que mandei o texto para ele. Meu primo disse que um livro desse tamanho leva pelo menos um mês para ler. Principalmente se a pessoa tem outras ocupações, o que acho ser o caso de Seu Raimundo. A fama e a consagração são em si uma ocupação. Deve viver a receber demandas. A minha sendo apenas uma delas. Mas, nossa, como queria que a minha demanda fosse atendida. É esperar. Queria só ter a certeza de que iria me responder. Para o bem ou para o mal. Tenho o pressentimento de que não vai e isso me esmaga e corrói, pois do outro lado de mim a esperança cresce muito viva e tal contradição de expectativas me dilacera a alma.

15h35. Recebi um e-mail agora e por um segundo pensei ser dele, mas era um e-mail promocional que cai sempre na minha caixa principal. Que ozzy. Sobre uma boneca(o) de RuPaul, veja só. Ah, enviei a obra mesmo sem revisão para um concurso literário nacional. Já estou certo de que não vou ganhar porque um dos quesitos fundamentais pelo qual a obra é aferida é representar e valorizar a pluralidade da cultura brasileira. Que cultura há em um manicômio que passa Rede Globo o dia inteiro? Cito algumas músicas que tocam no rádio de MPB e só. Não é o suficiente para valorizar a cultura brasileira. Então, chance zero de ganhar. O resultado só sai em novembro. Espero ter o meu texto pronto até setembro, pois é quando a Bagaço começa a receber novos originais. Em outubro, é a vez da Companhia das Letras. Espero até essas datas já estar com o livro pronto. Revisado e editado, digo. Queria a essa época também, já ter a resposta de Seu Raimundo. Estou obcecado por isso, admito. É o evento que definirá o futuro do meu livro. Se gaveta ou prateleiras. Não devia ter espalhado para deus e o mundo que Seu Raimundo iria ler, toda vez que espalho, dá nisso, ou seja, em nada. Calma, Mário, passaram-se só dez dias. Acho dez dias um bom pedaço de tempo, mas agora tenho que esperar a comunicação dele, já o aperrei demais. Mandei dois e-mails depois de ter lhe enviado o texto. Dois e-mails totalmente desnecessários. Espero que ele não desista. Se é que não já desistiu. Só saberei daqui a dois meses, que é o tempo que meu primo urbano acha que um leitor ocupado leva para ler 232 páginas de Word em fonte Calibri tamanho 11 sem espaçamento entre páginas dos capítulos. Até esse prazo posso esperar. Mas se ele não responder daqui a um mês e vinte dias, eu vou mandar um e-mail para ele. Por que eu preciso dessa aprovação? Porque eu não confio no meu texto. Porque não quero imprimir algo pura e simplesmente para satisfazer o meu ego. Algo que, por sinal, vai me denegrir perante as pessoas que me conhecem. Para pagar um preço tão alto, talvez perder amizades queridas, só vale se alguém achar que este texto é meritório. Alguém que eu acredite ter autoridade para tanto. Qual seja uma editora ou Seu Raimundo. Talvez o meu livro seja polêmico demais para editoras, mas Seu Raimundo está com ele nas mãos e pode inclusive me orientar em como melhorar. Nossa, como queria que isso acontecesse. Que angústia passar meus dias à espera de uma resposta que pode nunca chegar. É muito chata essa situação. Tenho vontade de mandar um e-mail para Seu Raimundo, mas não tenho coragem, mandei um há cinco dias. Está de bom tamanho. Está até excessivo. Só falta ele detonar o meu livro. Até prefiro, pois assim não gasto um tostão sequer para publicar. Mentira, prefiro que ele ache válido. Como dependo dessa validação. Daí me sentiria escritor de verdade, diria com a boca cheia que sou escritor. Acreditaria que sou escritor, pois não acredito nisso, por mais que tudo o que faço da vida seja escrever. Não sei fazer outra coisa nem nada me apetece mais do que escrever. Não sei porque se dá assim, mas é precisamente assim que se dá. Se Seu Raimundo soubesse a importância que a sua resposta tem para mim talvez se sentisse até intimidado. É um peso muito grande que deposito em suas costas, decidir se eu sou escritor ou apenas um blogueiro meia-boca. Que é como me vejo. Tanto que quando me digo escritor, a palavra me sai estranha da boca, como se não se aplicasse a mim. E ainda não se aplica a meu ver. Como disse preciso da aprovação de algo maior, de uma autoridade que eu reconheça como tal, para poder me dizer escritor e para poder transformar a minha obra em livro. Enquanto isso sou só um aposentado que escreve. Um babaca qualquer de 41 anos que não tem o que fazer na vida, então, para não morrer de tédio, passa o tempo a escrever compulsivamente. O pior que não se vê melhora no estilo, a prosa não flui mais fácil ou possui qualidades literárias. Eu sou um grande fracassado, isso sim. Nem no ofício que escolhi, que amo, sou bem-sucedido, por mais que me esforce. E me esforço bastante. Pratico todos os dias, praticamente todas as horas em que estou desperto, escrevo, escrevo e escrevo. Mas isso só me vale como diversão, não vejo em mim o valor que eu poderia me dar tivesse eu o mínimo de autoconfiança e autoestima. Em verdade, o silêncio de Seu Raimundo só me diminui. Me faz sentir mais merda ainda. É como me sinto agora. Seria melhor não ter descoberto o e-mail dele. Não ter enviado a obra pois, aposto, estaria ainda enamorado dela. “Landlady”. Mas agora a realidade é toda outra, mandei o livro para um dos caras mais respeitados da literatura pernambucana quiçá brasileira e a minha validação como profissional das letras está completamente atrelada à sua apreciação do que escrevi. Não estou sabendo lidar com tal vínculo, o que me gera profunda ansiedade. Este é um texto de alguém obcecado e ansioso por uma coisa que pode nem se dar. Se ele nunca me responder, eu vou ficar extremamente frustrado. Mas acho que é isso que vai acontecer. Sei lá. A esperança imortal, me deixa com um sei lá na cabeça. Sobre o que posso falar mais? O que mais me compromete na obra não são as falcatruas e o abuso de drogas, mas a minha paixão platônica por uma criança que alimentei à época do internamento e que, por falta de novo amor, acalento até hoje, por mais que nunca mais a tenha visto. Não, não sou pedófilo. Não a desejo sexualmente. Acho isso um absurdo, é apenas alguém que me encanta profundamente como uma fada ou uma ninfa. Pretendo, se daqui para lá nada me surgir ao peito, me declarar quando ela completar 21 anos. Estarei com 52 e passarei por um velho ridículo e tarado, mas não por pedófilo. Que eu acho que é o que qualquer um que ler o livro vai achar de mim. Ainda bem que não vai ser publicado porque não receberei o aval de quem de direito, então me pouparei dessa humilhação e execração públicas. Temo até apanhar do pai da menina que luta um tipo mortal de arte marcial do Iraque, eu acho. Perderei amizades. Serei tachado de tarado, de pedófilo, será horrível. Me tornarei ainda mais isolado do que era, pois os meus próprios amigos irão me rechaçar. O aval de Seu Raimundo tem todo esse lado negativo. Confundirão platonismo com pedofilia, pois é muito bom julgar e condenar o próximo. Só reparto isso aqui porque é um blog capilar que ninguém acessa. Estou muito certo de que não sou pedófilo. Não tenho desejo sexual pela figura. Mas a amo profundamente. Sou encantado por ela, acho-a admirável. E quero que cresça normalmente aproveitando com o máximo de si a juventude que é uma fase tão bela e deliciosa de ser vivida. Quero o seu bem. Nunca iria querer o seu mal. E acho que molestá-la sexualmente, além de ser hediondo aos meus olhos, macularia para sempre a vida dela. Afora que, como disse, não nutro desejo dessa natureza por ela. Para ser sincero, não sou muito afeito a sexo. Me masturbo aqui e ali e não tenho nesse prazer algo tão essencial como Coca Zero e cigarros, por exemplo. Acho sexo algo demandante que tem por objetivo maior satisfazer a parceira, não consigo mais ver com uma brincadeira de adulto para dois. Esse lado lúdico e prazeroso do sexo se perdeu para mim. Talvez porque venha de uma década quase ininterrupta de celibato, com duas broxadas no meio e pronto, o resto foi e é solidão. Desde que a Gatinha me deixou. E na solidão descobri as palavras ou elas me descobriram e é nelas que deposito todas as minhas energias, toda a minha alma, o meu máximo. Pena que o máximo nem sempre seja o suficiente. Mas é o que posso dar e é o que continuarei dando até que me veja incapaz de fazê-lo.

16h57. Peguei um copo de Coca. Nossa, que desabafo fiz aí em cima, espero que nenhum conhecido leia. Acho que vou até cortar essa parte. Ou não, ninguém acessa mesmo os blogs capilares. Mal acessam o Jornal do Profeta. Hahaha. Que dirá um que não divulgo? E se acessarem é a minha verdade. Se ela choca é porque há verdades que chocam por mexer com tabus. E o tabu com o qual lido é um dos maiores da sociedade. O fato de ter afeto por uma criança de me dizer com uma paixão platônica por uma criança é o suficiente para levantar sobrancelhas e me terem pervertido. Admito que Lewis Carroll foi mais sutil que eu, mas fez uma obra de amor por uma garota. Acredito que era platonicamente apaixonado por ela. Não lhe fez nenhum mal e ainda gerou um dos grandes clássicos da literatura mundial. Não chegarei a tanto com o meu livro, que nem sei se chegará a ser livro de verdade. Agora vejo o projeto todo como ridículo ou só me lembro das partes ridículas dele e isso me incomoda e me envergonha. Eu não tenho nada a oferecer que mereça ser lido. Quando penso que minha mãe e meu padrasto vão ler, isso me enche de vergonha. Ou meus familiares (especialmente da parte materna). Ou até mesmo os meus amigos, que em tese têm a mente mais aberta por serem de uma geração adiante. Todos me condenarão. Para valer a pena só com a anuência do escritor. Ele é como Yoda e eu o Luke Skywalker, preciso passar por ele para me tornar um Jedi/escritor. Em não passando nesse teste, não me considerarei nunca um Jedi/escritor. Que metáfora essa! Hahaha. Em passando no teste, não me importa que me chamem de escritor pervertido, serei escritor de toda forma. E isso me basta, mesmo que relegado à solidão onde já me encontro não fosse um programa ou outro de final de semana. Perderei vários amigos possivelmente e preciso comunicar às minhas amigas da minha paixão platônica. Mas tudo isso só vai acontecer se o escritor me der o aval.

17h16. Tomara que esse texto não seja lido por ninguém. Além de repetitivo é comprometedor dado o preconceito social em relação ao tema abordado nesse último parágrafo. De toda sorte o escritor não me dará o aval. Então não publicarei. Aposto que a minha amiga revisora vai dizer que é um conteúdo complicado para publicar, por tratar de um assunto tão delicado. Eu não vou publicar nunca. Preciso me conformar com isso. Quando tive alta do Manicômio, eu disse que me daria por satisfeito se tivesse o livro digitado e revisado. Isso eu vou ter. O resto cabe ao destino, na forma de Seu Raimundo me dar o aval. Ou alguma editora me aceitar me publicar o que acho ainda mais improvável. De qualquer forma me dou por satisfeito de ter o meu livro revisado. Me basta. E me poupa de muita dor de cabeça. E de perder o bem querer de pessoas que prezo muito. É uma sinuca de bico na qual me coloco, um dos meus dois maiores sonhos pode acarretar a minha ruína social. O segundo sonho é impossível, então nem conta, é como se só tivesse um sonho. Mas, para esse sonho se realizar ele tem que passar por seu desafio cabal, a aprovação de Seu Raimundo. Como não passará, tentarei duas editoras e, caso elas não acatem, vai para a gaveta ou pen drive para nunca ver a luz do dia. Devidamente revisado, como sonhei e achei que nunca chegaria a tanto. Por isso escrevi tão despudoradamente sobre a minha vida e meus desejos e minha paixão. Agora que a coisa se aproxima de sua conclusão, me apareceu Seu Raimundo no caminho que será o juiz do meu destino. Se ele vier mesmo a me responder. Queria muito que me respondesse. É a coisa que mais quero na vida e não tenho poderes para materializar esse desejo. É algo que independe totalmente de mim. Está fora das minhas mãos, além do meu alcance. Está entregue. Cabe ao destino/acaso e à boa vontade do bom velhinho. Nossa, não estou gostando deste texto, está escancarado demais. Mas mais escancarado está o do suposto não-livro. Queria que a incrível revisora achasse que há partes engraçadas. Acredito que há partes bem-humoradas no texto, não muitas, mas algumas. “Landlady”. O não-livro. É isso que será, um aborto de livro, um livro prestes a nascer que não verá a luz do dia. Não pago o preço se não me considerar um escritor. Não vale a pena. Acho que o destino/acaso colocou seu Raimundo na minha vida para que eu não publique o impublicável. Imagino a Doutora lendo o livro. Como a pinto. Provavelmente não me quereria mais como paciente. Hahaha. Pior que eu preciso da Doutora. Ou meu ex-psicólogo. Daria um exemplar para psicóloga de lá que me incentivou a colocar esse projeto para frente, que disse que iria querer ler. Mas se divulgasse no Facebook o lançamento do livro seria bem capaz do meu ex-psicólogo comprar um, certamente compraria por curiosidade em relação a como descrevo a internação e ele mesmo. Há muito o que cortar. Eu acho. Há trechos muito chatos. Verei isso com a incrível revisora. Não sei se publique este post nalgum blog capilar, posso estar brincando com o perigo. Mas estou de alma e coração limpos em relação a tudo o que disse aqui. Fui absolutamente sincero como sempre faço. Vou pegar Coca e fumar um cigarro.

17h59. Mamãe veio aqui com seu aluno para ver os meus bonecos. Ele até tirou fotos do Hulk e do Demolidor. Fumei o cigarro, mas continuo, apesar dessa dispersão, preocupado sobre o livro. Mas condicionar a tais aprovações – Seu Raimundo ou uma editora – me desonera da obrigação de publicá-lo. Minha mãe perguntou se eu não queria ir com ela deixar o seu aluno na Rui Barbosa. Eu declinei com o coração apertado, mas odeio trânsito. Acho que o aluno me achou um ingrato. Não será o último nem o primeiro. Hoje me sinto particularmente mal. Mau. Minha consciência pesa por ter declinado do convite de mamãe. São 18h08 e já me encontro saturado de escrever. Mas bem, se é o que de melhor tenho para fazer que continue. Apareceu um e-mail novo na caixa de entrada, mas infelizmente era outra peça publicitária. Ele não vai responder, Mário. Por que você ainda alimenta essa esperança? O grande Raimundo Carrero dando trela para você, veja se essa frase faz sentido, tem algum dado de realidade. Raimundo Carrero, da Academia Pernambucana de Letras, lendo 232 páginas de porcaria que você escreveu, parece coerente? Quando você pensa no que escreveu, você acha que é coerente? Não, não, não e não. Por que então ficar com esta ideia estúpida na cabeça? O seu livro é estúpido e lhe expõe desnecessariamente. Só um doido não vê isso. E você ainda mandou para uma amiga revisar. A namorada do seu primo. Que ato de insanidade. Mas dos males o menor, ela ficará com o segredo e o livro não verá a luz do dia porque as condições que você mesmo se impôs para publicá-lo são inalcançáveis. Você é um tolo, um idiota com um livro ruim. Seu livro é ruim, se dê conta disso de uma vez por todas. Eu sei que deu um trabalho monstruoso escrever à mão tudo aquilo e depois digitar, mas ter tido esse trabalho não valida a sua obra. Ela não deixa de ser ridícula por causa disso. Você acha que é polêmico? Você quer é passar por uma humilhação pública. É tudo o que ganhará com essa empreitada. Ira e chacota. Seja são uma vez na vida, acabada a revisão guarde esse livro porque você não vai receber resposta de Seu Raimundo Carrero e tampouco será aceito por uma editora. Você não narra de interessante em absoluto. Você só vai angariar para você as alcunhas de escroto, viciado e pedófilo. Quem bem há nisso? Só para satisfazer o seu ego? Não, só faço isso sob as condições inalcançáveis que mencionei, ou seja, não farei. Nossa, saber que não vou fazer me dá um alívio grande. Acho que é melhor assim, não publicar. Tentarei com o texto pronto, mandar para as editoras, visto que o grande e importante Raimundo Carrero não vai me responder. Mas sei que não vai dar em nada. Esse desabafo da impossibilidade me relaxou bastante. Não tenho obrigação de publicar. Me poupo de uma série de problemas agindo assim. A própria revisora vai dizer que o conteúdo é fraco. Como pude me iludir assim? O meu superego matou na unha agora. Mas está certo em tudo. Não receberei as respostas que sonho e não publicarei o livro. E esse é o final mais feliz para mim. Não há outro tão feliz. Você realiza até onde se prometeu e fica por isso mesmo. Aos que já sabem do livro. Digo que decidi não publicar. Simples assim. Se porventura Seu Raimundo responder, que não vai, aí a chama se reacende, pois aí considerarei válida a minha obra e aí o final da história pode ser outro. Mas ele não vai responder. Se fosse, já o teria feito. Achou tão ruim que nem se dignou a me responder, talvez até por pudor de ferir minhas sensibilidades. Não quero começar a falar nessa figura de novo que a ansiedade me toma de novo. Não estou com sentimentos bons sobre esse livro. Me senti aliviado, como agora me alivia saber que não vou publicar. Isso só pode significar que não devo, não posso e não quero publicar. Só por um milagre de São Raimundo, essa história mudaria de figura. Mas não acredito em milagres. Logo o máximo que fiz foi outorgar os meus segredos à incrível revisora. Que se chegou na parte de Aurora deve estar chocada comigo. Me achando o que todos achariam, um tarado pervertido. Nossa, que minha alma está convoluta. Que situação ozzy. Mas vou tentar as vias cabíveis quando chegarmos ao texto final. Quais sejam, cutucar Seu Raimundo e tentar mandar para a Companhia das Letras e para a Bagaço. Como nenhuma delas vai frutificar o livro ficará salvo no meu pen drive. Esse será o final da minha história como escritor. Serei blogueiro meia-boca para o resto da vida que é o que me resta. É chato ser medíocre, mas mais chato ainda é ser medíocre e achar que não é. Seu medíocre de merda. Você é um merda, rapaz. Não faz nada que preste da vida. E fica alimentando sonhos idiotas sem pé nem cabeça para se sentir válido. Deixando outra pessoa grilada com as suas perversões. Você é um nada no mundo querendo ser alguém. “Landlady”. Só que o seu texto não vale bosta nenhuma, é chato com personagens sem profundidade psicológica nenhuma, com acontecimentos irrelevantes, repleto da sua paranoia, paranoide que é. Não vale de porra nenhuma o que você escreveu. Pelo menos lhe serviu para fugir do tédio, se dê por feliz com isso que foi a única validade que esse texto teve. Ah, como eu queria que Seu Raimundo me mandasse um e-mail dizendo que o livro é válido para calar esse lado chato meu. O pior é que acho que este lado é o mais sadio. O mais sensato. O mais racional. E me dá alívio saber que não vou publicar. Isso é o que mais me incomoda. Essa satisfação em boicotar um dos meus dois maiores sonhos. Como disse, o outro é impossível, mas me parece que os dois são. Foi bom enquanto sonho durou. Pelo menos levarei a revisão até o fim. Mas aposto que daí não passo, pois a próxima etapa está para além de mim. Além do meu texto. Ele é menor do que essa etapa. Se fosse válido, seu Raimundo já teria se manifestado. Dez dias é tempo suficiente para formar uma opinião sobre uma obra. Sei lá. A esperança não me abandona. Pelo menos de uma resposta. Não vai haver resposta, Mário. Se fosse, já teria havido. Será que você não vê? Será tão burro, estúpido, tapado assim? Alimentar uma coisa que simplesmente não vai acontecer? Mas Seu Raimundo é um cara de Salgueiro, do interior, deve ser homem de palavra. Tá certo, Mário, se paute nisso. Passe amanhã e depois e depois, passe a vida toda esperando um e-mail que nunca chegará. Seu texto é uma merda, se convença disso de uma vez por todas, homem. Que idiotice ficar construindo castelos de ar. Você mesmo acha, por que então o tal do “Seu Raimundo” vai achar diferente? Se nem você mesmo acredita no que escreveu? Me responda esta resposta simples, direta, óbvia. Se você, que é o pai, rejeita a criança, como quer que um escritor consagrado a aceite? Não faz o mínimo nexo. Você escreveu para passar o tempo naquele sanatório e não passou disso de uma fuga do tédio. Não tem mérito literário, não tem conteúdo, não tem nada que agregue valor. E ainda pode queimar o seu filme geral. Não vê que tudo se soma para você não publicar esse livro? Está claro como o dia. Não adianta botar peneiras. Se o emérito escritor não o respondeu ainda, ele não mais fará. Foram dez dias, com dois e-mails ridículos de sua parte. Pelo menos deles você se envergonha. Pelo menos isso. Sonhar que Raimundo Carrero está lendo e dando uma ajeitada no seu texto é pura, absoluta ficção. Ele já o deixou de lado e isso nem lhe vem mais à cabeça. É passado. Texto ruim, não vou ferir os sentimentos do rapaz, melhor não responder. É precisamente isso que deve ter se passado na cabeça dele. E você de idiota sonhando com uma resposta. Se é tão bom o seu texto, porque você não o publica independentemente da opinião de Raimundo Carrero? Você quer muito acreditar no que não é. Você não nasceu com o dom da escrita, você escreve para não morrer, só isso. Você escreve para se sentir minimamente válido no mundo. Mas sabe que tudo o que escreve é uma merda ególatra. Não acrescenta em nada a ninguém. Mas você segue escrevendo, pois senão sua vida perde o sentido. Você não sabe o que fazer da vida além disso. Você ama fazer isso, mas isso não outorga qualidade ao que você escreve. Faça, se preencha com o seu Jornal do Profeta, mas não vá querer dar uma de escritor, você não tem envergadura para tanto. É nonsense, idiotice, ficção da sua cabeça. Ah, o bichinho queria ter uma obra impressa. É o grande sonho do bichinho. Que pena do bichinho, não é meritório desse sonho. Porque não tem o dom da escrita, nem tem uma boa história. Mas eu sei que no fundo da sua cabeça existe a esperança de receber o e-mail do escritor. Vai ser tapado assim no raio que o parta. Deixa de ser ingênuo. Ele simplesmente não deu crédito a sua obra. Não deve nem ter passado do primeiro capítulo aquela viagem que você escreveu drogado. Como impressionar alguém com aquilo. Como mostrar valor a um escritor consagrado começando daquela forma? Já parou para pensar nisso?

19h21. Fui pegar Coca. Mas vou dar a palavra ao meu superego, ele está se saindo melhor do que eu. Obrigado, pela parte que toca, pelo menos há um pingo de bom-senso na sua cabeça. O fato é que seu texto não vale nada. Sua mãe veio lhe dar sugestões de coisas mais saudáveis para você fazer, em vez disso você fica aí remoendo as suas sandices. Arre. Se bem que o que ela sugeriu valeria menos ainda porque você é pior ainda no verso que na prosa. Você é medíocre em todos os sentidos e não há como se livrar disso. É simples. O que você escreveu não tem qualidade alguma. Você serviu de escriba dentro de um manicômio e ainda atolou de ruminações desinteressantes a sua pobre narrativa. É lixo. Se você fizesse uma oficina com Raimundo Carrero, você saberia. Como a sua amiga revisora fez. Por sinal, até ela deve estar achando o texto uma porcaria. Até a porra da sua religião você botou. É muita insanidade para uma pessoa só. É muita asneira para uma obra só. E você não deixa de sonhar com a resposta do escritor. Como pode ainda, depois da constatação óbvia de que você mesmo não acredita no seu texto, querer que outrem acredite? Você desesperadamente precisa da aceitação de alguém e, para se diminuir mais do que eu já faço com você, foi logo pedir para um dos mais cultuados escritores daqui avaliar a sua obra. Patético. Estava muito cheio de autoconfiança no dia, não foi? Onde ela foi parar agora que a realidade novamente se fez dura e severa com você? Pois é, agora você está inseguro e temeroso e quase certo de que não vai publicar a sua obra. Muito melhor assim, recolha-se à sua insignificância, você é um ser insignificante com uma produção insignificante, você não produz nada de valor literário nenhum. Ah, porque uma tia gosta do que você escreve. Grandessíssima merda. Tia é babona mesmo. Você é tão ridículo que me envergonho de ser o seu superego. Por sinal é um trabalho bem fácil humilhar você e lhe pôr no devido diminuto lugar. Você não oferece resistência. Você é fraco, inseguro, não se ama, não acredita no seu trabalho, ao qual se dedica com todo afinco. Aceita todas as críticas que lhe faço porque lhe cabem. Você é medíocre e nunca sairá da mediocridade. O pior que apesar de tudo isso você ainda tem esperança de receber uma resposta. Isso é muito surpreendente. Como não vê que não vai haver resposta? Desista. Você é quem devia acreditar na sua obra, mas não consegue. Só conseguiria se um cara superocupado que não está dando merda pela sua obra lhe disse que vale a pena. Ele já está em outra há muito tempo e você nem sabe. Seu merda, você um merda fracassado e vai ser isso até morrer. E me terá como carrasco. Hahaha. Você me merece, merece que eu o execre porque na verdade é você mesmo que se execra, você não tem respeito próprio, autoestima, você é uma negação completa. Não tem valor nenhum. Não contribui com nada escrevendo essas porcarias. Achou que com as porcarias do Manicômio por estar lá lhe outorgariam algum valor? São as mesmas porcarias que você escreve aqui só num cenário mais inusitado isso não agrega valor suficiente à sua dita obra. Monte de lixo. Eu odeio você. Você se odeia, vê? Como pode alguém que se odeia amar algo que produz? Coitado. E espera uma redenção tão alta que nunca vai se manifestar. Se não se manifestar e as duas editoras não quiserem o seu livro você desiste de publicar? Jura? E a história dos três amigos lerem? Não vai tentar isso, não? Tem vergonha, é? Como quer publicar o livro se tem vergonha de compartilhar com pessoas mais próximas? Prova de que sabe que é uma merda. Você é um merda, Mário. Você é medíocre. Não é péssimo nem ótimo, é medíocre é o que sempre foi e o que sempre será. E o mundo não dá vez aos medíocres. Para a sua graça o Google disponibiliza um espaço virtual para você e qualquer tapado publicar suas asneiras e você se compraz com isso. É o melhor que faz mesmo, pois disso não passa. Eu sei o que você está pensando, que eu vou ver quando Carrero lhe responder, não é? Aposto com você o que quiser que ele não vai responder. Simplesmente porque você não merece a atenção dele. Ele percebeu isso nos primeiros parágrafos. Patético, vai acreditar em Papai Noel também, é outro velho de barbas brancas. Hahaha. Ser ridículo e vil que é, fica se auto-humilhando aqui para se sentir melhor. Para assumir o papel de coitadinho. Quando faz é papel de louco. Além de louco, medíocre, medíocre, medíocre. Esta palavra deveria estar tatuada na sua testa. E você é medíocre não apenas na escrita. Não. Tem muito mais. Você é um filho medíocre e ingrato. “Landlady”. Você é um amigo medíocre, você é um irmão medíocre. Não nesses aspectos você está baixo do medíocre, você é um merda nesses papéis. Você é um merda em todos os papéis que desempenha na vida. Você é um ser humano merda em todos os âmbitos. Como alguém assim consegue se suportar? Somente se trancando no quarto e escondendo a merda que é do mundo. Como a aberração de Kafka. Você não está distante daquele ser imundo. Você não presta para nada. Você simplesmente não serve, não se encaixa, você é o mais reles dos reles. Fazendo papel de coitadinho. Que coitado que nada, você é um egoísta espertalhão. Isso é o que você é. Um sanguessuga. Imprestável que só faz dar trabalho. Nem se dignar a almoçar com a sua mãe você se digna. Só vai comer quando todos vão dormir criatura hedionda. Se é para botar tudo para fora, botemos tudo para fora. Você foi uma das coisas que matou o seu pai de desgosto, pois seu pai morreu de desgosto da vida. E você era uma das principais fontes de desgosto dele com as suas recaídas em cola. Além de tudo você é um viciado de merda. Está no controle? Não vai mais usar? E quer que eu acredite. Pelo menos nisso acreditamos os dois. Mas parece que quando acreditamos, vem um sentimento contrário, negativo para lhe foder o juízo, não é? Pronto taí, nisso você é excelente. É um excelente viciado. Hahaha. É onde você se supera e a sua criatividade não tem limites. Seu merda. Você é um merda. Você nem chega a ser gente, gente se enquadra no quadro social, mas nem isso você consegue. Você fracassou em todos os aspectos da sua vida, você é um fracasso completo. Não tem livro nenhum para lhe redimir, você não vai conseguir o que almeja. Você sonhou alto demais. Justamente para se frustrar e se sentir mais merda do que já é. Mandou o texto para quem? Raimundo Carrero. O cara é do Movimento Armorial e você começa seu texto falando de Stranger Things e Hulk. E quer que o cara aplauda a tua obra. É ser muito idiota mesmo. E a esperança ainda existe. Realmente, tenho que dar o braço a torcer, você quando deseja uma coisa deseja com vontade, acha que dessa vez não vai fracassar. Aliás, você acha que já fracassou, porque você sou eu. Você só se bota na terceira pessoa por vergonha de si mesmo isso tudo sou eu dizendo para mim mesmo. É preocupante. Mas me parece tão terrivelmente real. Eu me acho um fracasso completo e um escritor medíocre que não merece ser publicado. É uma pena, mas é a verdade. E estou obcecado com essa obra. Ou estava. Depois desse desabafo tudo muda de figura. O mais provável é que vai ficar guardadinha no meu pen drive e quando esse se quebrar eu a perco. Ou então mando para o meu próprio e-mail, que aí, enquanto eu souber a senha, estará a salvo.

20h16. Não me bastasse o meu atual estado de ânimo, vem minha mãe criticar o meu hábito de escrever. Dizer para eu não caluniar o cara, que eu posso ser preso por ver pornografia na internet. Como se eu visse algo indevido. E olhe que ela tem uma mente ocupada, não sei como arruma tempo para imaginar tais asneiras. Bom, conseguiu me fazer sentir pior. Esse seria um texto bom para mandar para Ju, não fora tão grande. Ela não lerá. Que pena. Nele me humilho o mais sinceramente que posso, minha autoimagem se revela da forma mais clara possível. Mesmo que na figura do meu superego, mesmo utilizando da terceira pessoa, é tudo eu, são tudo coisas que eu acho. Crenças que eu tenho de mim. Não são as mais saudáveis. Por isso o incentivo de Raimundo Carrero que sei que não virá me faria tão bem. Eu gostaria de me chamar de escritor com sinceridade e ter um livro publicado. Mas nem sempre querer é poder. Ainda mais quando se depende de terceiros. De um desconhecido. E ainda mais de um desconhecido que deve receber uma tonelada de pedidos semelhantes. Afora que acho que o que escrevi é lixo mesmo. E um lixo que me difama.

20h27. Parece que passou uma eternidade, mas é apenas só mais um dia sem resposta. Um único dia. Nossa, como isso é frustrante. Antes não tivesse encontrado o e-mail de Raimundo Carrero. Estaria com a alma bem mais tranquila. Se bem que o sonho da editora me publicar por mérito perduraria. Nossa, como sou um ser humano ridículo e desprezível. E que gosta de sonhar grande ainda por cima. Mário, se conforme que não vai receber resposta de Seu Raimundo. Acontece. É a vida. Ou você acredita na sua obra ou não. Eu não acredito na minha obra. Acho ela constrangedora e comprometedora. E medíocre. A vontade que eu tenho é compartilhar esse post com Seu Raimundo para ele saber toda a extensão do que se passa dentro de mim. Mas aí pareceria uma atitude desesperada de aprovação. Não. Não sei nem se publique isso num dos meus blogs capilares. A vontade é grande. Depois de despejar tantas palavras tão dura e sinceras. De me perceber dessa forma tão baixa que é de onde me enxergo e onde me coloco. Acho tão verdadeira que me dá pena que não vá a público mesmo que em um blog que ninguém acesse. É uma pena que me veja assim. É uma pena que a minha psicóloga não leia. Acho que vou mandar para ela. Não custa nada. Vou perder tempo, mas se há uma coisa que estou me acostumando ultimamente a perder é tempo. Dane-se. Dane-se eu. Mas eu já estou danado, é a danação ser quem eu sou, uma completa aberração social. Gosto da vida que levo mas gostar de mim é pedir demais. Quem sabe Seu Raimundo não tenha alguém que procure publicações com o seu nome na internet. Seria irônico ele achar este texto. Muito irônico. E até um pouco desejado. Mas chega dessa obsessão. Ainda há muito tempo até a hora de dormir. Vou revisar e postar isso. Não sei onde, mas em algum dos capilares.

Se você, por um acaso do destino se deparou com esse texto e quer ler mais do que escrevo, vá ao meu blog principal http://jornaldoprofeta.blogspot.com.br/ o local em que você está é um blog secundário ou capilar como eu chamo esses blogs que eu crio direcionando para o meu com nomes que acho legais e que estão disponíveis. Abraço.

Thursday, February 1, 2018

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Meu blog tem muitos nomes, Ermitão Urbanoide, Algo ou Teorias do Fruto da Árvore Envenenada, Crônicas do Meu Cotidano, Jornal do Profeta, O Grande Inútil, O Bonobo etc. Só um desses abriga os meus textos, entretanto. Está no link abaixo.



Por que crio vários endereços de blog direcionando para um blog só? Porque me diverte criar e registrar tais nomes, porque é gratuito, porque eu quero, porque eu inventei os nomes, para me sentir capilarizando o meu conteúdo. Não sei se a parte do capilarizando vai atrair algum hit para o meu blog, mas se você estiver lendo e clicar no link e calhar de ler algumas linhas, é porque pelo menos uma vez funcionou. Obrigado por aportar aqui!

NEURA COM RAIMUNDO CARRERO II E TÉDIO ENORME

Hoje se afigura como um dia como outro qualquer, o que é ótimo. Deu uma endoidada na conexão entre o som e o computador, fica conectando e...