12h51. Como já tenho um post na agulha para amanhã no Jornal
do Profeta, venho me dizer aqui num dos meus blogs capilares que, agora
percebo, tem essa outra finalidade que é escoar a minha produção que tem sido
excessiva para um só blog. Nossa, como os cabelos caem depois dos 40. O meu
teclado estava cheio deles o que me agoniava deveras. Consegui removê-los. É
interessante, me sinto diferente, sabendo que estou escrevendo para um dos meus
blogs capilares. Dificilmente serei lido, mas revisarei o texto da mesma forma.
Continuo com a paranoia se Seu Raimundo (Carrero) vai responder sobre o meu
texto ou não. Ele seria a pessoa que validaria minha obra como digna de ser
publicada. Estou quase mandando um e-mail para ele contando do meu blog. Não
farei isso. Combinei comigo mesmo que a próxima comunicação tem que partir
dele. Eu já o importunei demais. Se ele for um homem de palavra há de me
responder. Senão obtiver resposta até lá, que não sei quando se dará, me prometi
enviar uma última mensagem com a versão final, devidamente revisada do meu
livro. O que ainda demora uns bons dois meses, eu creio. Tempo demais para que
leia o que lhe mandei, eu creio. O que pega mais é que ele é do Movimento
Armorial e há uma série de referências à cultura americana no meu texto. Ah,
para você que está por fora, eu redigi um diário enquanto internado num
manicômio privado por abuso de drogas. Ficou uma maçaroca de 232 páginas de
Word com fonte Calibri corpo 11. E não pulei páginas de um capítulo para o
outro, foi tudo corrido. Enviei para um concurso nacional de literatura da Cepe
e, com a formatação exigida, Times New Roman corpo 12, pulando página após o
final de cada capítulo, pulou para 288 páginas de Word. Ou seja, não é uma
coisa que se leia da noite para o dia. Gostaria que a incrível revisora me
dissesse que foi transportada para dentro do manicômio com a narrativa, que se
interessou pelos personagens, aí acho que teria atingido o meu objetivo. Eu
penso em cortar os dias que passei em casa, nas saídas de final de semana, mas
acho que nem isso vou cortar. “Landlady” do U2, passa no som, linda, linda. Se
você tiver Spotify e não odiar U2, poderia dar uma chance a essa música, é a
melhor do “Songs of Experience”, na minha opinião. Mas não vou me repetir aqui.
Só digo que ela me lembra a liberdade. O que não é pouco. Foi em condições sui
generis que essa música adquiriu esse significado para mim, quando de uma
recaída na cola de sapateiro, minha droga de preferência e antes da internação,
mais uma vez, no Manicômio. Tive oportunidade de ouvi-la aqui no meu
quarto-ilha, enquanto escrevia, tomava minha Coca e tinha a companhia do meu
busto do Hulk em tamanho real. Um momento de liberdade, entre a escravidão do
vício e a prisão do Manicômio. Foi um momento marcante e transformador da minha
vida, quando percebi que o grande barato é isto que agora faço. É ter a
liberdade de escrever no meu quarto amado, me sentindo livre. Mas já narrei
isso no “Diário do Manicômio”, nome da minha obra. Essa que quero que Seu
Raimundo leia. Única história peculiar que tenho para contar da minha vida.
Pois o resto dela se resume basicamente a escrever. É isso que eu amo e o que
dá sentido e direção à minha existência.

13h18. Aqui provavelmente irei remoer sobre Seu Raimundo,
mas não estou aperreado com isso no momento. Hoje é aniversário de uma amiga,
mais para conhecida, cujo aniversário da filha em 2016 foi o dia mais feliz da
minha vida. Narro isso no livro também. Os dois dias mais felizes da minha vida.
E o segundo é relacionado com a cola. Pois é, as drogas têm esse poder de
êxtase absoluto, de prazer dos prazeres, por isso é tão difícil ao viciado se
desvencilhar delas. Por isso foi difícil para mim me desvencilhar dela. Sorte
que na minha última recaída, a de “Landlady”, o uso tenha sido uma porcaria e
decidi que estou velho para me dar a esse desfrute. Não era mais como foi
antigamente, não houve catarse ou êxtase. Ainda bem. O que posso contar mais a
você. Sobre seu Raimundo. O seu era o único nome de escritor pernambucano do
qual me lembrava e calhou de ser um que tinha e-mail na internet. Perguntei se
ele estava disposto a ler o meu livro e ele disse que leria com prazer. Mandei
dia 30, faz 10 dias hoje e não obtive mais resposta. Acho que talvez seja pouco
tempo para ele ler o livro todo, olhando em retrospecto. Ainda mais ele que
deve ter uma vida muito mais atarefada que a minha que sou curatelado, não
trabalho senão escrevendo incansavelmente esses textos. Porque escrevo muito
sobre o tal do livro e isso me põe ansiosíssimo para dizer o mínimo. Como não
vejo TV e não leio, não tenho pensamentos outros para me preencher a mente que
não os meus mesmos. O livro sendo um dos meus dois maiores sonhos na vida (o
outro sendo namorar um certo alguém também revelado no livro! Hahaha). E o
sonho mais passível de se realizar, afinal, juntando um pouco de dinheiro posso
me publicar. O problema é que não queria me publicar por me publicar, num ato
de egolatria que todo livro deveras é, mas, sim, com o aval de alguém que
julgasse meritória tal publicação. No caso, Seu Raimundo. Ou uma editora
aceitando me publicar, o que acho mais difícil, pois meu livro toca em alguns
delicados tabus. Seu Raimundo é que é a pessoa que queria que respondesse, sua
resposta é a coisa mais importante para mim hoje, nesse exato momento, e tem
sido assim há alguns dias já. Esse líquido que coloquei no meu cigarro
eletrônico combina bem com o gosto de café. São sabores complementares, eu
diria. Não sei qual é o sabor do líquido, mas por ser de qualidade, não ser do
chinês do qual comprei 500ml sabor cereja, tem um sabor marcante e uma fumaça
que ofende menos o meu pulmão. Por sinal, devido ao cigarro e à cola, da última
vez que aferi, a minha capacidade pulmonar era de 68% apenas, ou seja, caminho
para um enfisema pulmonar. Mas confio cegamente nos avanços da medicina.
Hahaha. O que pode atrapalhar os avanços da medicina é o lobby da indústria
farmacêutica. Mas aí estou eu a criar teorias da conspiração. Que não acho tão
distantes da realidade. Veremos o que o futuro me reserva. Tomara que um pulmão
novo. Hahaha. E pode ser que morra de coisa outra também. Nunca se sabe. O
destino/acaso é tão criativo. Às vezes de forma maquiavélica. Quantas ironias
do destino/acaso já presenciei...
13h43. Eu me sinto mais livre para me repetir aqui, o que
torna o meu trabalho ainda mais fácil. No Jornal do Profeta eu tenho que ter o
maior cuidado para não fazê-lo e acabo sempre incorrendo na repetição. Mas
aqui, reduto que ninguém lê, posso redundar à vontade. Se você aportou aqui só
encontrará novidade. A não ser que tenha achado esse recôndito por causa do
Jornal do Profeta. Aí vai achar só mais do mesmo. Voltando ao livro, o coloquei
para revisão com uma pessoa querida e na qual confio muito, a namorada do meu
primo urbano. Não por ser a sua namorada, mas por ser uma pessoa dedicada e
muito perfeccionista. Não sei se ela me dizendo que é uma grande história, que
merece ser compartilhada, eu me convenceria disso. Talvez, mas só se ela
espontaneamente me dissesse tais coisas, o que não vai acontecer, pois não é
verdade. É um texto narrado frouxamente, cheio de eventos desinteressantes amplificados
pelo tédio da internação. Fatos irrelevantes ganham uma dimensão enorme, quando
se está internado e nada de mais significativo acontece. Talvez esse seja o
maior pecado do livro. Quando escrevo a palavra livro, só penso em Seu
Raimundo. Só ele poderia outorgar ou negar a qualidade do meu texto de ser
livro. Como queria uma resposta dele. Hoje eu queria mais a resposta dele que o
sim de Aurora. Até porque a hora de Aurora para mim ainda não é chegada. A
sensação que tenho é que Seu Raimundo não me responderá, mas a esperança existe
e não para de zunir no meu juízo. É um tormento. Essa espera do que pode nem
vir. Se soubesse que viria, eu ficaria tranquilo e esperaria em paz, mas não
saber é muito agoniante. A dúvida em relação a isso é algo que me consome e me
põe muito ansioso. Eu que não sou dado a ansiedades, me vejo agora diariamente
assaltado por elas. E olhe que me considero um cara tranquilo, mas estamos
falando aqui do sonho maior de uma pessoa, sua realização profissional, a única
e última obra que possuo. Se não for essa, morrerei sem publicar nada (de
físico, visto que a minha produção virtual vai muito bem, obrigado, apesar de
ser lido por poucos), o que vai ser uma grande frustração em me considerando
escritor. Coisa que só me considerarei caso a minha obra seja aprovada por Seu
Raimundo ou por uma editora. Publicar um livro por egolatria somente não me outorga
o direito de me chamar escritor. Preciso do aval de alguém ou alguma
instituição que julgue a minha obra meritória de publicação. Seu Raimundo é até
da Academia Pernambucana de Letras, nem sabia. Cadeira número 3, eu acho. O
cara é o suprassumo mesmo. Se ele aceitasse o meu livro, estaria realizado,
mesmo que não o publicasse, embora com uma sagração dessas eu mesmo me
publicaria. Não acharia egolatria, mas válido publicar. Nossa, só não peço a
Deus porque não acredito na entidade e porque se ela existir há pessoas muito
mais necessitadas do que eu para ela acudir. Seria egoísmo da minha parte. Um
tolo querendo que um grande mestre – que disse que leria com prazer a minha
obra – responda algo sobre um texto que lhe enviei. Caso ainda não tenha me
respondido até a versão definitiva do texto ficar pronta. “Landylady”, o
Spotify está em modo cíclico desse disco. Eu mandarei tal versão e perguntarei
se ele é um homem de palavra ou não. É a narrativa de uma situação sui generis
pela qual poucas pessoas passam e o único escriba disponível para narrar a tal
situação fui eu. Não vejo mais ninguém fazendo o mesmo. Anotando o que se passa
ao redor de si num manicômio privado. Tem partes interessantes e outras
tediosas. Acho que na edição terei que limar as partes chatas. O pior que não
sei como, pois há eventos que se desencadeiam de outros, o que acontece em um
dia respinga para o próximo e assim sucessivamente. Mas deve haver uma forma de
cortar os dias chatos, ou então, quem sabe, uma vez que se pegue o ritmo do livro,
se acostume com o seu ritmo. Não sei, só sei que queria o aval do ocupante da
cadeira número 3 da Academia Pernambucana de Letras. E que a espera incerta de
tal retorno me ataca os nervos. Já até elaborei uma capa para o livro, veja só.
Por sinal veja só mesmo, aí embaixo.

14h34. O que achou? Fraca? Melhor deixar com o diagramador,
né? E olha que sou formado em Publicidade e Propaganda! Hahaha. Para você ver
como eu não tinha talento nenhum para a profissão. Escolhi a cor laca gerânio,
ou o mais próximo dela, para os textos e lombada por ser a minha cor predileta,
coloquei um azulejo rachado na capa, embora não pareça isso, pois o manicômio é
todo revestido de azulejos. Coloquei o título lá embaixo porque, além de ficar
uma composição legal, eu quero mandar produzir umas cintas com slogans
provocativos e colocar no centro do livro. Assim uma coisa não impede a leitura
da outra. Isso se e somente se o meu livro for tido como publicável por Seu
Raimundo ou quem ache de direito. Seu Raimundo seria perfeito, não poderia ter
escolhido padrinho melhor, o negócio é ter paciência e esperar que ele me
responda, coisa que não estou conseguindo ter. Sempre fui muito imediatista. E
essas coisas não se dão assim. Eu acho, pois nunca fiz nada nem de perto
semelhante a isso. E não farei novamente. Só tenho essa história para contar,
não pretendo me submeter a mais nenhuma internação ou recair no uso de cola.
Não há ninguém que se disporá a escrever um caudaloso diário de sua estadia num
manicômio privado. Ou público, que seja. Por isso e pela sinceridade acho o meu
texto único. Mas não sei se esses dois diferenciais são suficientes para elevar
o meu texto ao status de livro. Sei lá. Sei lá o que esperar do destino/acaso e
de Seu Raimundo. Fato é que ele é a pessoa mais citada nos meus últimos posts
do Jornal do Profeta. Por isso foi até bom vir remoer aqui, num local que não
estava ainda impregnado de Seu Raimundo. Agora está. Hahaha. Não sei em qual
dos blogs eu publique isto. Bom ainda tenho o dia inteiro para escrever, então
não há pressa.
14h53. Na varanda, minha mãe atende um aluno. No mundo
pessoas nascem e morrem. Eu me sinto um abençoado em relação a elas, faço o que
amo e tenho as minhas necessidades todas supridas. Quase todas. A de afeto e a
de validação do meu livro estão deficitárias. Que são os meus dois maiores
sonhos. De resto não me falta nada. Tenho tudo o que desejo e até mais. Tenho
Hulk, tenho amigos (que estão meio distantes de mim ou eu deles). Tenho uma mãe
e isso é muito importante e significativo, pois temos uma relação de
codependência forte. Não sei como será o meu mundo sem a minha mãe, o rombo vai
ser enorme na alma. Desaprendi a me gerenciar, me acostumei a ser gerenciado
por ela. Por mais que ultimamente tenha aliviado um pouco as rédeas. O que é
bom para mim e para ela. Estou com vontade de fumar um cigarro de verdade, mas
acho que fumei muito ontem à noite e a carteira tem que durar até amanhã à
noite. Vou ver quantos tenho. Se tiver 13, eu fumo um. Tenho onze. Cinco para
hoje e seis para amanhã. É isso. Vou fumar um.
15h11. Fumei e continuo apostando todas as minhas fichas em
Seu Raimundo. O café acabou. Passei à Coca Zero. Funciono precariamente sem
cafeína. O café me desperta e me põe de bom humor. Fico hipotetizando uma tarde/noite
de autógrafos para o lançamento do livro e morro de vergonha. A pessoa que me
revelo no livro não é nem um pouco bonita ou agradável. Mas isso só descobrirão
depois de ler. Mas me envergonha ser o centro das atenções de forma tão
completa. Se fosse fazer, faria no casarão aqui do prédio. Caso fosse uma
publicação do meu bolso. Se fosse de uma editora, o que certamente não se dará,
ela determinaria o local e ofereceria a infraestrutura. Será que teria que
contratar garçons, ter canapés, pensei em encher o freezer de cervejas ou,
melhor ainda, deixar a organização por conta da minha prima e vizinha produtora
de eventos. Da forma mais barata possível. Não queria que meus familiares
maternos tivessem acesso ao livro. Não sei se os convidaria. Mas quer saber,
dane-se. É a minha verdade, doa a quem doer. Só acho que tenho que alertar as
minhas duas melhores amigas, só perdendo para a Gatinha, minha ex, sobre a
parte mais delicada do livro. Isso preciso fazer antes de lançar, se lançar.
Está tudo nas mãos de Seu Raimundo. “Landlady” passa novamente. E Seu Raimundo
novamente vem à baila. Nossa como queria que o bom velhinho me respondesse. Com
honestidade, dizendo se é publicável ou não. Mas acho que por ser do Movimento
Armorial, que defende a cultura local, vá odiar o meu texto cheio de
anglicismos e citações a cultura americana. Seria bom que colocasse tal
ideologia de lado e analisasse o todo. Bom, faz apenas dez dias que mandei o
texto para ele. Meu primo disse que um livro desse tamanho leva pelo menos um
mês para ler. Principalmente se a pessoa tem outras ocupações, o que acho ser o
caso de Seu Raimundo. A fama e a consagração são em si uma ocupação. Deve viver
a receber demandas. A minha sendo apenas uma delas. Mas, nossa, como queria que
a minha demanda fosse atendida. É esperar. Queria só ter a certeza de que iria
me responder. Para o bem ou para o mal. Tenho o pressentimento de que não vai e
isso me esmaga e corrói, pois do outro lado de mim a esperança cresce muito
viva e tal contradição de expectativas me dilacera a alma.
15h35. Recebi um e-mail agora e por um segundo pensei ser
dele, mas era um e-mail promocional que cai sempre na minha caixa principal.
Que ozzy. Sobre uma boneca(o) de RuPaul, veja só. Ah, enviei a obra mesmo sem
revisão para um concurso literário nacional. Já estou certo de que não vou
ganhar porque um dos quesitos fundamentais pelo qual a obra é aferida é representar
e valorizar a pluralidade da cultura brasileira. Que cultura há em um manicômio
que passa Rede Globo o dia inteiro? Cito algumas músicas que tocam no rádio de
MPB e só. Não é o suficiente para valorizar a cultura brasileira. Então, chance
zero de ganhar. O resultado só sai em novembro. Espero ter o meu texto pronto
até setembro, pois é quando a Bagaço começa a receber novos originais. Em
outubro, é a vez da Companhia das Letras. Espero até essas datas já estar com o
livro pronto. Revisado e editado, digo. Queria a essa época também, já ter a
resposta de Seu Raimundo. Estou obcecado por isso, admito. É o evento que
definirá o futuro do meu livro. Se gaveta ou prateleiras. Não devia ter
espalhado para deus e o mundo que Seu Raimundo iria ler, toda vez que espalho,
dá nisso, ou seja, em nada. Calma, Mário, passaram-se só dez dias. Acho dez
dias um bom pedaço de tempo, mas agora tenho que esperar a comunicação dele, já
o aperrei demais. Mandei dois e-mails depois de ter lhe enviado o texto. Dois
e-mails totalmente desnecessários. Espero que ele não desista. Se é que não já
desistiu. Só saberei daqui a dois meses, que é o tempo que meu primo urbano acha
que um leitor ocupado leva para ler 232 páginas de Word em fonte Calibri
tamanho 11 sem espaçamento entre páginas dos capítulos. Até esse prazo posso
esperar. Mas se ele não responder daqui a um mês e vinte dias, eu vou mandar um
e-mail para ele. Por que eu preciso dessa aprovação? Porque eu não confio no
meu texto. Porque não quero imprimir algo pura e simplesmente para satisfazer o
meu ego. Algo que, por sinal, vai me denegrir perante as pessoas que me
conhecem. Para pagar um preço tão alto, talvez perder amizades queridas, só
vale se alguém achar que este texto é meritório. Alguém que eu acredite ter
autoridade para tanto. Qual seja uma editora ou Seu Raimundo. Talvez o meu
livro seja polêmico demais para editoras, mas Seu Raimundo está com ele nas
mãos e pode inclusive me orientar em como melhorar. Nossa, como queria que isso
acontecesse. Que angústia passar meus dias à espera de uma resposta que pode
nunca chegar. É muito chata essa situação. Tenho vontade de mandar um e-mail
para Seu Raimundo, mas não tenho coragem, mandei um há cinco dias. Está de bom
tamanho. Está até excessivo. Só falta ele detonar o meu livro. Até prefiro,
pois assim não gasto um tostão sequer para publicar. Mentira, prefiro que ele
ache válido. Como dependo dessa validação. Daí me sentiria escritor de verdade,
diria com a boca cheia que sou escritor. Acreditaria que sou escritor, pois não
acredito nisso, por mais que tudo o que faço da vida seja escrever. Não sei
fazer outra coisa nem nada me apetece mais do que escrever. Não sei porque se
dá assim, mas é precisamente assim que se dá. Se Seu Raimundo soubesse a
importância que a sua resposta tem para mim talvez se sentisse até intimidado. É
um peso muito grande que deposito em suas costas, decidir se eu sou escritor ou
apenas um blogueiro meia-boca. Que é como me vejo. Tanto que quando me digo
escritor, a palavra me sai estranha da boca, como se não se aplicasse a mim. E
ainda não se aplica a meu ver. Como disse preciso da aprovação de algo maior,
de uma autoridade que eu reconheça como tal, para poder me dizer escritor e
para poder transformar a minha obra em livro. Enquanto isso sou só um
aposentado que escreve. Um babaca qualquer de 41 anos que não tem o que fazer
na vida, então, para não morrer de tédio, passa o tempo a escrever
compulsivamente. O pior que não se vê melhora no estilo, a prosa não flui mais
fácil ou possui qualidades literárias. Eu sou um grande fracassado, isso sim.
Nem no ofício que escolhi, que amo, sou bem-sucedido, por mais que me esforce.
E me esforço bastante. Pratico todos os dias, praticamente todas as horas em
que estou desperto, escrevo, escrevo e escrevo. Mas isso só me vale como
diversão, não vejo em mim o valor que eu poderia me dar tivesse eu o mínimo de
autoconfiança e autoestima. Em verdade, o silêncio de Seu Raimundo só me
diminui. Me faz sentir mais merda ainda. É como me sinto agora. Seria melhor
não ter descoberto o e-mail dele. Não ter enviado a obra pois, aposto, estaria
ainda enamorado dela. “Landlady”. Mas agora a realidade é toda outra, mandei o
livro para um dos caras mais respeitados da literatura pernambucana quiçá
brasileira e a minha validação como profissional das letras está completamente
atrelada à sua apreciação do que escrevi. Não estou sabendo lidar com tal
vínculo, o que me gera profunda ansiedade. Este é um texto de alguém obcecado e
ansioso por uma coisa que pode nem se dar. Se ele nunca me responder, eu vou
ficar extremamente frustrado. Mas acho que é isso que vai acontecer. Sei lá. A
esperança imortal, me deixa com um sei lá na cabeça. Sobre o que posso falar
mais? O que mais me compromete na obra não são as falcatruas e o abuso de
drogas, mas a minha paixão platônica por uma criança que alimentei à época do
internamento e que, por falta de novo amor, acalento até hoje, por mais que
nunca mais a tenha visto. Não, não sou pedófilo. Não a desejo sexualmente. Acho
isso um absurdo, é apenas alguém que me encanta profundamente como uma fada ou
uma ninfa. Pretendo, se daqui para lá nada me surgir ao peito, me declarar
quando ela completar 21 anos. Estarei com 52 e passarei por um velho ridículo e
tarado, mas não por pedófilo. Que eu acho que é o que qualquer um que ler o
livro vai achar de mim. Ainda bem que não vai ser publicado porque não
receberei o aval de quem de direito, então me pouparei dessa humilhação e
execração públicas. Temo até apanhar do pai da menina que luta um tipo mortal
de arte marcial do Iraque, eu acho. Perderei amizades. Serei tachado de tarado,
de pedófilo, será horrível. Me tornarei ainda mais isolado do que era, pois os
meus próprios amigos irão me rechaçar. O aval de Seu Raimundo tem todo esse
lado negativo. Confundirão platonismo com pedofilia, pois é muito bom julgar e
condenar o próximo. Só reparto isso aqui porque é um blog capilar que ninguém
acessa. Estou muito certo de que não sou pedófilo. Não tenho desejo sexual pela
figura. Mas a amo profundamente. Sou encantado por ela, acho-a admirável. E
quero que cresça normalmente aproveitando com o máximo de si a juventude que é
uma fase tão bela e deliciosa de ser vivida. Quero o seu bem. Nunca iria querer
o seu mal. E acho que molestá-la sexualmente, além de ser hediondo aos meus
olhos, macularia para sempre a vida dela. Afora que, como disse, não nutro
desejo dessa natureza por ela. Para ser sincero, não sou muito afeito a sexo.
Me masturbo aqui e ali e não tenho nesse prazer algo tão essencial como Coca
Zero e cigarros, por exemplo. Acho sexo algo demandante que tem por objetivo
maior satisfazer a parceira, não consigo mais ver com uma brincadeira de adulto
para dois. Esse lado lúdico e prazeroso do sexo se perdeu para mim. Talvez
porque venha de uma década quase ininterrupta de celibato, com duas broxadas no
meio e pronto, o resto foi e é solidão. Desde que a Gatinha me deixou. E na
solidão descobri as palavras ou elas me descobriram e é nelas que deposito
todas as minhas energias, toda a minha alma, o meu máximo. Pena que o máximo
nem sempre seja o suficiente. Mas é o que posso dar e é o que continuarei dando
até que me veja incapaz de fazê-lo.
16h57. Peguei um copo de Coca. Nossa, que desabafo fiz aí em
cima, espero que nenhum conhecido leia. Acho que vou até cortar essa parte. Ou
não, ninguém acessa mesmo os blogs capilares. Mal acessam o Jornal do Profeta.
Hahaha. Que dirá um que não divulgo? E se acessarem é a minha verdade. Se ela
choca é porque há verdades que chocam por mexer com tabus. E o tabu com o qual
lido é um dos maiores da sociedade. O fato de ter afeto por uma criança de me
dizer com uma paixão platônica por uma criança é o suficiente para levantar
sobrancelhas e me terem pervertido. Admito que Lewis Carroll foi mais sutil que
eu, mas fez uma obra de amor por uma garota. Acredito que era platonicamente
apaixonado por ela. Não lhe fez nenhum mal e ainda gerou um dos grandes
clássicos da literatura mundial. Não chegarei a tanto com o meu livro, que nem
sei se chegará a ser livro de verdade. Agora vejo o projeto todo como ridículo
ou só me lembro das partes ridículas dele e isso me incomoda e me envergonha.
Eu não tenho nada a oferecer que mereça ser lido. Quando penso que minha mãe e
meu padrasto vão ler, isso me enche de vergonha. Ou meus familiares
(especialmente da parte materna). Ou até mesmo os meus amigos, que em tese têm
a mente mais aberta por serem de uma geração adiante. Todos me condenarão. Para
valer a pena só com a anuência do escritor. Ele é como Yoda e eu o Luke
Skywalker, preciso passar por ele para me tornar um Jedi/escritor. Em não
passando nesse teste, não me considerarei nunca um Jedi/escritor. Que metáfora
essa! Hahaha. Em passando no teste, não me importa que me chamem de escritor
pervertido, serei escritor de toda forma. E isso me basta, mesmo que relegado à
solidão onde já me encontro não fosse um programa ou outro de final de semana. Perderei
vários amigos possivelmente e preciso comunicar às minhas amigas da minha
paixão platônica. Mas tudo isso só vai acontecer se o escritor me der o aval.
17h16. Tomara que esse texto não seja lido por ninguém. Além
de repetitivo é comprometedor dado o preconceito social em relação ao tema
abordado nesse último parágrafo. De toda sorte o escritor não me dará o aval.
Então não publicarei. Aposto que a minha amiga revisora vai dizer que é um conteúdo
complicado para publicar, por tratar de um assunto tão delicado. Eu não vou
publicar nunca. Preciso me conformar com isso. Quando tive alta do Manicômio,
eu disse que me daria por satisfeito se tivesse o livro digitado e revisado.
Isso eu vou ter. O resto cabe ao destino, na forma de Seu Raimundo me dar o
aval. Ou alguma editora me aceitar me publicar o que acho ainda mais
improvável. De qualquer forma me dou por satisfeito de ter o meu livro
revisado. Me basta. E me poupa de muita dor de cabeça. E de perder o bem querer
de pessoas que prezo muito. É uma sinuca de bico na qual me coloco, um dos meus
dois maiores sonhos pode acarretar a minha ruína social. O segundo sonho é
impossível, então nem conta, é como se só tivesse um sonho. Mas, para esse sonho
se realizar ele tem que passar por seu desafio cabal, a aprovação de Seu
Raimundo. Como não passará, tentarei duas editoras e, caso elas não acatem, vai
para a gaveta ou pen drive para nunca ver a luz do dia. Devidamente revisado,
como sonhei e achei que nunca chegaria a tanto. Por isso escrevi tão
despudoradamente sobre a minha vida e meus desejos e minha paixão. Agora que a
coisa se aproxima de sua conclusão, me apareceu Seu Raimundo no caminho que
será o juiz do meu destino. Se ele vier mesmo a me responder. Queria muito que
me respondesse. É a coisa que mais quero na vida e não tenho poderes para
materializar esse desejo. É algo que independe totalmente de mim. Está fora das
minhas mãos, além do meu alcance. Está entregue. Cabe ao destino/acaso e à boa
vontade do bom velhinho. Nossa, não estou gostando deste texto, está
escancarado demais. Mas mais escancarado está o do suposto não-livro. Queria
que a incrível revisora achasse que há partes engraçadas. Acredito que há
partes bem-humoradas no texto, não muitas, mas algumas. “Landlady”. O
não-livro. É isso que será, um aborto de livro, um livro prestes a nascer que
não verá a luz do dia. Não pago o preço se não me considerar um escritor. Não
vale a pena. Acho que o destino/acaso colocou seu Raimundo na minha vida para
que eu não publique o impublicável. Imagino a Doutora lendo o livro. Como a
pinto. Provavelmente não me quereria mais como paciente. Hahaha. Pior que eu
preciso da Doutora. Ou meu ex-psicólogo. Daria um exemplar para psicóloga de lá
que me incentivou a colocar esse projeto para frente, que disse que iria querer
ler. Mas se divulgasse no Facebook o lançamento do livro seria bem capaz do meu
ex-psicólogo comprar um, certamente compraria por curiosidade em relação a como
descrevo a internação e ele mesmo. Há muito o que cortar. Eu acho. Há trechos
muito chatos. Verei isso com a incrível revisora. Não sei se publique este post
nalgum blog capilar, posso estar brincando com o perigo. Mas estou de alma e
coração limpos em relação a tudo o que disse aqui. Fui absolutamente sincero
como sempre faço. Vou pegar Coca e fumar um cigarro.
17h59. Mamãe veio aqui com seu aluno para ver os meus
bonecos. Ele até tirou fotos do Hulk e do Demolidor. Fumei o cigarro, mas
continuo, apesar dessa dispersão, preocupado sobre o livro. Mas condicionar a
tais aprovações – Seu Raimundo ou uma editora – me desonera da obrigação de
publicá-lo. Minha mãe perguntou se eu não queria ir com ela deixar o seu aluno
na Rui Barbosa. Eu declinei com o coração apertado, mas odeio trânsito. Acho
que o aluno me achou um ingrato. Não será o último nem o primeiro. Hoje me
sinto particularmente mal. Mau. Minha consciência pesa por ter declinado do
convite de mamãe. São 18h08 e já me encontro saturado de escrever. Mas bem, se
é o que de melhor tenho para fazer que continue. Apareceu um e-mail novo na
caixa de entrada, mas infelizmente era outra peça publicitária. Ele não vai
responder, Mário. Por que você ainda alimenta essa esperança? O grande Raimundo
Carrero dando trela para você, veja se essa frase faz sentido, tem algum dado
de realidade. Raimundo Carrero, da Academia Pernambucana de Letras, lendo 232
páginas de porcaria que você escreveu, parece coerente? Quando você pensa no
que escreveu, você acha que é coerente? Não, não, não e não. Por que então
ficar com esta ideia estúpida na cabeça? O seu livro é estúpido e lhe expõe
desnecessariamente. Só um doido não vê isso. E você ainda mandou para uma amiga
revisar. A namorada do seu primo. Que ato de insanidade. Mas dos males o menor,
ela ficará com o segredo e o livro não verá a luz do dia porque as condições
que você mesmo se impôs para publicá-lo são inalcançáveis. Você é um tolo, um
idiota com um livro ruim. Seu livro é ruim, se dê conta disso de uma vez por
todas. Eu sei que deu um trabalho monstruoso escrever à mão tudo aquilo e
depois digitar, mas ter tido esse trabalho não valida a sua obra. Ela não deixa
de ser ridícula por causa disso. Você acha que é polêmico? Você quer é passar
por uma humilhação pública. É tudo o que ganhará com essa empreitada. Ira e
chacota. Seja são uma vez na vida, acabada a revisão guarde esse livro porque
você não vai receber resposta de Seu Raimundo Carrero e tampouco será aceito
por uma editora. Você não narra de interessante em absoluto. Você só vai angariar
para você as alcunhas de escroto, viciado e pedófilo. Quem bem há nisso? Só
para satisfazer o seu ego? Não, só faço isso sob as condições inalcançáveis que
mencionei, ou seja, não farei. Nossa, saber que não vou fazer me dá um alívio
grande. Acho que é melhor assim, não publicar. Tentarei com o texto pronto,
mandar para as editoras, visto que o grande e importante Raimundo Carrero não
vai me responder. Mas sei que não vai dar em nada. Esse desabafo da
impossibilidade me relaxou bastante. Não tenho obrigação de publicar. Me poupo
de uma série de problemas agindo assim. A própria revisora vai dizer que o
conteúdo é fraco. Como pude me iludir assim? O meu superego matou na unha
agora. Mas está certo em tudo. Não receberei as respostas que sonho e não
publicarei o livro. E esse é o final mais feliz para mim. Não há outro tão
feliz. Você realiza até onde se prometeu e fica por isso mesmo. Aos que já
sabem do livro. Digo que decidi não publicar. Simples assim. Se porventura Seu
Raimundo responder, que não vai, aí a chama se reacende, pois aí considerarei
válida a minha obra e aí o final da história pode ser outro. Mas ele não vai
responder. Se fosse, já o teria feito. Achou tão ruim que nem se dignou a me
responder, talvez até por pudor de ferir minhas sensibilidades. Não quero
começar a falar nessa figura de novo que a ansiedade me toma de novo. Não estou
com sentimentos bons sobre esse livro. Me senti aliviado, como agora me alivia
saber que não vou publicar. Isso só pode significar que não devo, não posso e não
quero publicar. Só por um milagre de São Raimundo, essa história mudaria de
figura. Mas não acredito em milagres. Logo o máximo que fiz foi outorgar os
meus segredos à incrível revisora. Que se chegou na parte de Aurora deve estar
chocada comigo. Me achando o que todos achariam, um tarado pervertido. Nossa,
que minha alma está convoluta. Que situação ozzy. Mas vou tentar as vias
cabíveis quando chegarmos ao texto final. Quais sejam, cutucar Seu Raimundo e
tentar mandar para a Companhia das Letras e para a Bagaço. Como nenhuma delas
vai frutificar o livro ficará salvo no meu pen drive. Esse será o final da
minha história como escritor. Serei blogueiro meia-boca para o resto da vida
que é o que me resta. É chato ser medíocre, mas mais chato ainda é ser medíocre
e achar que não é. Seu medíocre de merda. Você é um merda, rapaz. Não faz nada
que preste da vida. E fica alimentando sonhos idiotas sem pé nem cabeça para se
sentir válido. Deixando outra pessoa grilada com as suas perversões. Você é um
nada no mundo querendo ser alguém. “Landlady”. Só que o seu texto não vale
bosta nenhuma, é chato com personagens sem profundidade psicológica nenhuma,
com acontecimentos irrelevantes, repleto da sua paranoia, paranoide que é. Não
vale de porra nenhuma o que você escreveu. Pelo menos lhe serviu para fugir do
tédio, se dê por feliz com isso que foi a única validade que esse texto teve.
Ah, como eu queria que Seu Raimundo me mandasse um e-mail dizendo que o livro é
válido para calar esse lado chato meu. O pior é que acho que este lado é o mais
sadio. O mais sensato. O mais racional. E me dá alívio saber que não vou
publicar. Isso é o que mais me incomoda. Essa satisfação em boicotar um dos
meus dois maiores sonhos. Como disse, o outro é impossível, mas me parece que
os dois são. Foi bom enquanto sonho durou. Pelo menos levarei a revisão até o
fim. Mas aposto que daí não passo, pois a próxima etapa está para além de mim.
Além do meu texto. Ele é menor do que essa etapa. Se fosse válido, seu Raimundo
já teria se manifestado. Dez dias é tempo suficiente para formar uma opinião
sobre uma obra. Sei lá. A esperança não me abandona. Pelo menos de uma
resposta. Não vai haver resposta, Mário. Se fosse, já teria havido. Será que
você não vê? Será tão burro, estúpido, tapado assim? Alimentar uma coisa que
simplesmente não vai acontecer? Mas Seu Raimundo é um cara de Salgueiro, do
interior, deve ser homem de palavra. Tá certo, Mário, se paute nisso. Passe
amanhã e depois e depois, passe a vida toda esperando um e-mail que nunca
chegará. Seu texto é uma merda, se convença disso de uma vez por todas, homem.
Que idiotice ficar construindo castelos de ar. Você mesmo acha, por que então o
tal do “Seu Raimundo” vai achar diferente? Se nem você mesmo acredita no que
escreveu? Me responda esta resposta simples, direta, óbvia. Se você, que é o
pai, rejeita a criança, como quer que um escritor consagrado a aceite? Não faz
o mínimo nexo. Você escreveu para passar o tempo naquele sanatório e não passou
disso de uma fuga do tédio. Não tem mérito literário, não tem conteúdo, não tem
nada que agregue valor. E ainda pode queimar o seu filme geral. Não vê que tudo
se soma para você não publicar esse livro? Está claro como o dia. Não adianta
botar peneiras. Se o emérito escritor não o respondeu ainda, ele não mais fará.
Foram dez dias, com dois e-mails ridículos de sua parte. Pelo menos deles você
se envergonha. Pelo menos isso. Sonhar que Raimundo Carrero está lendo e dando
uma ajeitada no seu texto é pura, absoluta ficção. Ele já o deixou de lado e
isso nem lhe vem mais à cabeça. É passado. Texto ruim, não vou ferir os
sentimentos do rapaz, melhor não responder. É precisamente isso que deve ter se
passado na cabeça dele. E você de idiota sonhando com uma resposta. Se é tão
bom o seu texto, porque você não o publica independentemente da opinião de
Raimundo Carrero? Você quer muito acreditar no que não é. Você não nasceu com o
dom da escrita, você escreve para não morrer, só isso. Você escreve para se
sentir minimamente válido no mundo. Mas sabe que tudo o que escreve é uma merda
ególatra. Não acrescenta em nada a ninguém. Mas você segue escrevendo, pois senão
sua vida perde o sentido. Você não sabe o que fazer da vida além disso. Você
ama fazer isso, mas isso não outorga qualidade ao que você escreve. Faça, se preencha
com o seu Jornal do Profeta, mas não vá querer dar uma de escritor, você não
tem envergadura para tanto. É nonsense, idiotice, ficção da sua cabeça. Ah, o
bichinho queria ter uma obra impressa. É o grande sonho do bichinho. Que pena
do bichinho, não é meritório desse sonho. Porque não tem o dom da escrita, nem
tem uma boa história. Mas eu sei que no fundo da sua cabeça existe a esperança
de receber o e-mail do escritor. Vai ser tapado assim no raio que o parta.
Deixa de ser ingênuo. Ele simplesmente não deu crédito a sua obra. Não deve nem
ter passado do primeiro capítulo aquela viagem que você escreveu drogado. Como
impressionar alguém com aquilo. Como mostrar valor a um escritor consagrado
começando daquela forma? Já parou para pensar nisso?
19h21. Fui pegar Coca. Mas vou dar a palavra ao meu
superego, ele está se saindo melhor do que eu. Obrigado, pela parte que toca,
pelo menos há um pingo de bom-senso na sua cabeça. O fato é que seu texto não
vale nada. Sua mãe veio lhe dar sugestões de coisas mais saudáveis para você
fazer, em vez disso você fica aí remoendo as suas sandices. Arre. Se bem que o
que ela sugeriu valeria menos ainda porque você é pior ainda no verso que na
prosa. Você é medíocre em todos os sentidos e não há como se livrar disso. É
simples. O que você escreveu não tem qualidade alguma. Você serviu de escriba
dentro de um manicômio e ainda atolou de ruminações desinteressantes a sua
pobre narrativa. É lixo. Se você fizesse uma oficina com Raimundo Carrero, você
saberia. Como a sua amiga revisora fez. Por sinal, até ela deve estar achando o
texto uma porcaria. Até a porra da sua religião você botou. É muita insanidade
para uma pessoa só. É muita asneira para uma obra só. E você não deixa de
sonhar com a resposta do escritor. Como pode ainda, depois da constatação óbvia
de que você mesmo não acredita no seu texto, querer que outrem acredite? Você
desesperadamente precisa da aceitação de alguém e, para se diminuir mais do que
eu já faço com você, foi logo pedir para um dos mais cultuados escritores daqui
avaliar a sua obra. Patético. Estava muito cheio de autoconfiança no dia, não
foi? Onde ela foi parar agora que a realidade novamente se fez dura e severa
com você? Pois é, agora você está inseguro e temeroso e quase certo de que não
vai publicar a sua obra. Muito melhor assim, recolha-se à sua insignificância,
você é um ser insignificante com uma produção insignificante, você não produz
nada de valor literário nenhum. Ah, porque uma tia gosta do que você escreve.
Grandessíssima merda. Tia é babona mesmo. Você é tão ridículo que me envergonho
de ser o seu superego. Por sinal é um trabalho bem fácil humilhar você e lhe
pôr no devido diminuto lugar. Você não oferece resistência. Você é fraco,
inseguro, não se ama, não acredita no seu trabalho, ao qual se dedica com todo
afinco. Aceita todas as críticas que lhe faço porque lhe cabem. Você é medíocre
e nunca sairá da mediocridade. O pior que apesar de tudo isso você ainda tem
esperança de receber uma resposta. Isso é muito surpreendente. Como não vê que
não vai haver resposta? Desista. Você é quem devia acreditar na sua obra, mas
não consegue. Só conseguiria se um cara superocupado que não está dando merda
pela sua obra lhe disse que vale a pena. Ele já está em outra há muito tempo e você
nem sabe. Seu merda, você um merda fracassado e vai ser isso até morrer. E me
terá como carrasco. Hahaha. Você me merece, merece que eu o execre porque na
verdade é você mesmo que se execra, você não tem respeito próprio, autoestima,
você é uma negação completa. Não tem valor nenhum. Não contribui com nada
escrevendo essas porcarias. Achou que com as porcarias do Manicômio por estar
lá lhe outorgariam algum valor? São as mesmas porcarias que você escreve aqui
só num cenário mais inusitado isso não agrega valor suficiente à sua dita obra.
Monte de lixo. Eu odeio você. Você se odeia, vê? Como pode alguém que se odeia
amar algo que produz? Coitado. E espera uma redenção tão alta que nunca vai se
manifestar. Se não se manifestar e as duas editoras não quiserem o seu livro
você desiste de publicar? Jura? E a história dos três amigos lerem? Não vai
tentar isso, não? Tem vergonha, é? Como quer publicar o livro se tem vergonha
de compartilhar com pessoas mais próximas? Prova de que sabe que é uma merda.
Você é um merda, Mário. Você é medíocre. Não é péssimo nem ótimo, é medíocre é
o que sempre foi e o que sempre será. E o mundo não dá vez aos medíocres. Para
a sua graça o Google disponibiliza um espaço virtual para você e qualquer
tapado publicar suas asneiras e você se compraz com isso. É o melhor que faz
mesmo, pois disso não passa. Eu sei o que você está pensando, que eu vou ver
quando Carrero lhe responder, não é? Aposto com você o que quiser que ele não
vai responder. Simplesmente porque você não merece a atenção dele. Ele percebeu
isso nos primeiros parágrafos. Patético, vai acreditar em Papai Noel também, é
outro velho de barbas brancas. Hahaha. Ser ridículo e vil que é, fica se
auto-humilhando aqui para se sentir melhor. Para assumir o papel de coitadinho.
Quando faz é papel de louco. Além de louco, medíocre, medíocre, medíocre. Esta
palavra deveria estar tatuada na sua testa. E você é medíocre não apenas na
escrita. Não. Tem muito mais. Você é um filho medíocre e ingrato. “Landlady”.
Você é um amigo medíocre, você é um irmão medíocre. Não nesses aspectos você
está baixo do medíocre, você é um merda nesses papéis. Você é um merda em todos
os papéis que desempenha na vida. Você é um ser humano merda em todos os
âmbitos. Como alguém assim consegue se suportar? Somente se trancando no quarto
e escondendo a merda que é do mundo. Como a aberração de Kafka. Você não está
distante daquele ser imundo. Você não presta para nada. Você simplesmente não
serve, não se encaixa, você é o mais reles dos reles. Fazendo papel de
coitadinho. Que coitado que nada, você é um egoísta espertalhão. Isso é o que
você é. Um sanguessuga. Imprestável que só faz dar trabalho. Nem se dignar a
almoçar com a sua mãe você se digna. Só vai comer quando todos vão dormir
criatura hedionda. Se é para botar tudo para fora, botemos tudo para fora. Você
foi uma das coisas que matou o seu pai de desgosto, pois seu pai morreu de
desgosto da vida. E você era uma das principais fontes de desgosto dele com as
suas recaídas em cola. Além de tudo você é um viciado de merda. Está no
controle? Não vai mais usar? E quer que eu acredite. Pelo menos nisso
acreditamos os dois. Mas parece que quando acreditamos, vem um sentimento
contrário, negativo para lhe foder o juízo, não é? Pronto taí, nisso você é
excelente. É um excelente viciado. Hahaha. É onde você se supera e a sua
criatividade não tem limites. Seu merda. Você é um merda. Você nem chega a ser
gente, gente se enquadra no quadro social, mas nem isso você consegue. Você
fracassou em todos os aspectos da sua vida, você é um fracasso completo. Não
tem livro nenhum para lhe redimir, você não vai conseguir o que almeja. Você
sonhou alto demais. Justamente para se frustrar e se sentir mais merda do que
já é. Mandou o texto para quem? Raimundo Carrero. O cara é do Movimento
Armorial e você começa seu texto falando de Stranger Things e Hulk. E quer que
o cara aplauda a tua obra. É ser muito idiota mesmo. E a esperança ainda
existe. Realmente, tenho que dar o braço a torcer, você quando deseja uma coisa
deseja com vontade, acha que dessa vez não vai fracassar. Aliás, você acha que
já fracassou, porque você sou eu. Você só se bota na terceira pessoa por
vergonha de si mesmo isso tudo sou eu dizendo para mim mesmo. É preocupante.
Mas me parece tão terrivelmente real. Eu me acho um fracasso completo e um
escritor medíocre que não merece ser publicado. É uma pena, mas é a verdade. E
estou obcecado com essa obra. Ou estava. Depois desse desabafo tudo muda de
figura. O mais provável é que vai ficar guardadinha no meu pen drive e quando
esse se quebrar eu a perco. Ou então mando para o meu próprio e-mail, que aí,
enquanto eu souber a senha, estará a salvo.
20h16. Não me bastasse o meu atual estado de ânimo, vem
minha mãe criticar o meu hábito de escrever. Dizer para eu não caluniar o cara,
que eu posso ser preso por ver pornografia na internet. Como se eu visse algo
indevido. E olhe que ela tem uma mente ocupada, não sei como arruma tempo para
imaginar tais asneiras. Bom, conseguiu me fazer sentir pior. Esse seria um
texto bom para mandar para Ju, não fora tão grande. Ela não lerá. Que pena.
Nele me humilho o mais sinceramente que posso, minha autoimagem se revela da
forma mais clara possível. Mesmo que na figura do meu superego, mesmo
utilizando da terceira pessoa, é tudo eu, são tudo coisas que eu acho. Crenças
que eu tenho de mim. Não são as mais saudáveis. Por isso o incentivo de Raimundo
Carrero que sei que não virá me faria tão bem. Eu gostaria de me chamar de
escritor com sinceridade e ter um livro publicado. Mas nem sempre querer é
poder. Ainda mais quando se depende de terceiros. De um desconhecido. E ainda
mais de um desconhecido que deve receber uma tonelada de pedidos semelhantes.
Afora que acho que o que escrevi é lixo mesmo. E um lixo que me difama.
20h27. Parece que passou uma eternidade, mas é apenas só
mais um dia sem resposta. Um único dia. Nossa, como isso é frustrante. Antes
não tivesse encontrado o e-mail de Raimundo Carrero. Estaria com a alma bem
mais tranquila. Se bem que o sonho da editora me publicar por mérito
perduraria. Nossa, como sou um ser humano ridículo e desprezível. E que gosta
de sonhar grande ainda por cima. Mário, se conforme que não vai receber resposta
de Seu Raimundo. Acontece. É a vida. Ou você acredita na sua obra ou não. Eu
não acredito na minha obra. Acho ela constrangedora e comprometedora. E
medíocre. A vontade que eu tenho é compartilhar esse post com Seu Raimundo para
ele saber toda a extensão do que se passa dentro de mim. Mas aí pareceria uma
atitude desesperada de aprovação. Não. Não sei nem se publique isso num dos
meus blogs capilares. A vontade é grande. Depois de despejar tantas palavras
tão dura e sinceras. De me perceber dessa forma tão baixa que é de onde me
enxergo e onde me coloco. Acho tão verdadeira que me dá pena que não vá a
público mesmo que em um blog que ninguém acesse. É uma pena que me veja assim.
É uma pena que a minha psicóloga não leia. Acho que vou mandar para ela. Não
custa nada. Vou perder tempo, mas se há uma coisa que estou me acostumando ultimamente
a perder é tempo. Dane-se. Dane-se eu. Mas eu já estou danado, é a danação ser
quem eu sou, uma completa aberração social. Gosto da vida que levo mas gostar
de mim é pedir demais. Quem sabe Seu Raimundo não tenha alguém que procure
publicações com o seu nome na internet. Seria irônico ele achar este texto.
Muito irônico. E até um pouco desejado. Mas chega dessa obsessão. Ainda há
muito tempo até a hora de dormir. Vou revisar e postar isso. Não sei onde, mas
em algum dos capilares.
Se você, por um acaso do destino se deparou com esse texto e
quer ler mais do que escrevo, vá ao meu blog principal
http://jornaldoprofeta.blogspot.com.br/
o local em que você está é um blog secundário ou capilar como eu chamo esses
blogs que eu crio direcionando para o meu com nomes que acho legais e que estão
disponíveis. Abraço.